A antiga estação ferroviária de Mirandela está na fase final das obras de remodelação e vai abrir ao público no início de 2024, anunciou hoje a autarquia.
O espaço requalificado vai ter uma parte ligada à mobilidade e outra vai ser dedicada à cultura e às artes.
A expedição da alheira através da ferrovia, que se transformou no ex-líbris do concelho do distrito de Bragança, também vai ocupar um lugar de destaque
O edifício, que fazia parte da desativada Linha do Tua, foi inaugurado em 1887. O rés-do-chão estava praticamente sem utilidade desde que os comboios pararam, em 1991, com a interrupção da ligação à capital de distrito. A parte superior, usada como moradia para funcionários da linha e das suas famílias, estava desocupada desde a década de 80 do século XX.
“Esta obra era muito desejada por todos os mirandelenses. É um espaço de visita, mas também de memórias de todos aqueles que passaram por aqui e viveram aqui. A ferrovia faz parte da nossa vida (…)”, começou por dizer aos jornalistas Júlia Rodrigues, presidente da câmara municipal, numa conferência de imprensa.
Nos pisos cimeiros, a renovada estação ferroviária vai ser “muito vocacionada para a educação e para os jovens poderem ter espaços de aprendizagem”, afirmou a autarca socialista, que vincou que vai estar “aberto a todos” os que se dedicam à arte. Vai haver, por exemplo, locais para ateliês ou exposições.
O piso térreo é dedicado à mobilidade. “Sabemos que, infelizmente, ainda não temos a mobilidade do Tua a funcionar”, lamentou Júlia Rodrigues, adiantando que, para já, vai abrir na envolvente um centro de bicicletas elétricas. Vai ainda ser retomado o serviço de cafetaria que já ali existiu, no tempo da Linha do Tua.
Há ainda o compromisso de ter um espaço dedicado à alheira, que saía daquele entreposto comercial, embalada em caixas, para seguir no comboio. “A alheira era expedida daqui e devemos dar esse tributo, uma vez que Mirandela é conhecida como a capital da alheira”, disse Júlia Rodrigues.
Está ainda previsto que na inauguração haja uma exposição ligada às obras de reconstrução. No futuro, já há uma lista de peças museológicas que podem vir a ser cedidas pela Comboios de Portugal, antiga dona da estação.
Nesta visita guiada esteve Graciete Veiga, uma das últimas habitantes do edifício. Mudou-se em 1976, quando casou. "Com emoção", foi a segunda vez que foi ver as obras. Um dos sítios que mais recordações lhe traz são as escadas centenárias de madeira em caracol, recuperadas agora. “Quando subia as escadas, recordava os tempos que passei lá, as vezes que as lavei (…) e eu e a minha irmã a lermos o livro d'O Crime do Padre Amaro e da Sara Beirão”.
Para Graciete, “está tudo muito bonito”, mas falta uma promessa: “Gostava de ver na parte exterior uma máquina do caminho-de-ferro que, quando foram festejados os 100 anos da linha, foi prometida para Mirandela. E, até à data, ainda não chegou”, relembrou aos jornalistas.
A empreitada de renovação começou em junho de 2021. Nos retoques finais, Nuno Sousa, responsável pelo projeto, explicou que a obra “obrigou a estudar soluções arquitetónicas bastante minimalistas para não interferir com a história do edifício”, cuja traça foi preservada, assim como muitos dos detalhes, como azulejos ou lareiras.
A intervenção está orçada em 2,5 milhões, comparticipadas a 85% pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.
Fotografia. António Pereira