O número exacto de portugueses a viver em Andorra não se conhece, mas dando como certa uma estimativa de 14 mil, é fácil perceber por que Portugal se faz notar no Principado, que o Presidente da República visita esta semana.

A fazer fé na estimativa, quase um quinto da população total de cerca de 80 mil, é normal que os portugueses se notem, nos nomes dos restaurantes, nos diálogos que se ouvem nas ruas e nos cafés. Como evidencia o último estudo do Governo, apresentado em Fevereiro, o uso do português está a crescer em Andorra.

E isto apesar de a crise ter já feito regressar a Portugal, no último ano, centenas de portugueses. José Luís Carvalho, ex-conselheiro das Comunidades, estima que sejam cerca de 300 só em 2009.

«Andorra depende muito dos países vizinhos. A situação em Espanha e França está má. E a crise vê-se», diz.

Carlos David Cerqueira, vice-presidente do Futebol Clube Lusitanos e operário da construção, refere que é uma situação sem precedentes, num país onde não há fundo de desemprego porque nunca houve desempregados.

«Está complicado. Nota-se algum desemprego entre os andorranos. Entre os portugueses não. Como não há fundo de desemprego nem apoio, quem perde o emprego e não arranja outro vai-se embora», explica.

António Cerqueira, dono do restaurante Nou, diz que os comensais, e as receitas, caíram a pique.

O empresário Nuno Ribeiro - dono de uma empresa de mudanças e da empresa que detém a Voz Lusa, revista mensal bilingue (português e catalão) - admite que possam ter já sido mais que 300 portugueses a abandonar Andorra.

Até porque alguns «não chegam a dar-se de baixa», preferindo sair do Principado algum tempo «à espera que a coisa melhore» e assim garantir que não perdem os direitos de continuidade de residência.

«Nota-se bastante a crise. Nota-se no consumo. Eu noto nas mudanças e nota-se na construção», explica.

A situação começou a preocupar tanto o Governo de Andorra que no final do ano passado decidiu aprovar, com critérios muito apertados, um subsídio para ajudar andorranos há mais de três meses sem trabalho.

No Principado, que Aníbal Cavaco Silva visita entre sexta-feira e domingo, a segurança social é limitada à assistência de saúde, o que se explica pelo modelo tributário, referiram os dirigentes do Clube de Empresários Portugueses de Andorra (CEPA), Patrícia Bragança (presidente), Nuno Ribeiro (vice-presidente) e Hugo Silva (secretário).

Independentemente do que se ganhe, todos os trabalhadores só descontam 5,5 por cento e as empresas, sobre o salário, 14,5 por cento.

«Não se tem subsídio de desemprego, mas também não o pagamos», diz Patrícia Bragança.

Andorra sempre teve excedente de trabalho - «nunca havia falta de ofertas», como explica a presidente do CEPA -, mas o mercado torna-se complicado quando a crise bate à porta.



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