Um estudo sobre o setor agroalimentar da região Norte defende a criação de cadeias de distribuição mais curtas entre produtores e consumidores, um ‘simplex’ agrário e uma reorganização administrativa focada na proximidade, foi hoje divulgado.

O estudo “Ecossistema agroalimentar, gestão ativa do território e desenvolvimento regional” foi desenvolvido pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) e é apresentado, esta tarde, na academia transmontana, em Vila Real.

O trabalho, coordenado pelos professores Fontaínhas Fernandes e Alberto Batista, teve como objetivo central elaborar um diagnóstico e apresentar uma visão estratégica para um setor mais competitivo, resiliente e sustentável.

Neste âmbito, o trabalho define cinco objetivos estratégicos: inovação e competitividade, atratividade, sustentabilidade ambiental, valorização do território e governação, sendo apresentadas sugestões.

Fontaínhas Fernandes disse à agência Lusa que uma questão “absolutamente importante” é a criação de “cadeias de proximidade entre os agentes que produzem e os consumidores finais”. “Criar circuitos de distribuição mais curtos que não passem apenas pelas grandes cadeias”, concretizou.

Na sua opinião, face à transição ecológica e sustentabilidade ambiental, é preciso apostar em criar dinâmicas ao nível intermunicipal ou concelhos que facilitem a circulação dos produtos, até porque existem produtos “que não faz sentido” serem importados, como, por exemplo, a carne, que é produzida em várias zonas da região.

Também “ganha cada vez mais força” a questão da conectividade e comunicação digital, pelo que defende que a “infraestrutura digital tem que ser alastrada a todo o território”.

É preciso também, acrescentou, apostar na eficiência hídrica e aproveitar a água da chuva, através da construção de charcas ou projetos de maior dimensão.

O setor tem que, segundo Fontaínhas Fernandes, apostar na ciência e tecnologia, exemplificando com a instalação de campos experimentais onde se possam desenvolver projetos demonstradores da importância da agricultura no sequestro de carbono.

Outra questão destacada é a quebra demográfica e o envelhecimento da população, sendo que a mão de obra no setor é cada vez mais escassa e os salários mais baixos comparativamente com outros setores, e é, por isso, necessário criar mais atratividade ao setor.

Neste trabalho é defendido um ‘simplex’ agrário e a criação de um balcão verde, ou seja, um espaço onde os utentes resolvam todos os processos administrativos na área agroalimentar.

Fontaínhas Fernandes defende que “é preciso um serviço de proximidade junto dos cidadãos e das empresas”.

As direções de agricultura e pescas estão a ser integradas nas CCDR e este foi também um tema abordado no trabalho.

“Da integração da direção regional de agricultura na CCDR-N, I.P. deve resultar maior capacidade de articulação e concertação estratégica de agentes do setor agroalimentar, nomeadamente no âmbito do planeamento e programas de políticas públicas”, pode ler-se no estudo.

No âmbito da reorganização, o documento sugere ainda que a “coordenação de todos os serviços deve ser da responsabilidade de um dirigente com a categoria de vice-presidente”.

O estudo apresenta um mapeamento das culturas no Norte, desde a vinha, olival, frutos frescos e secos ou hortícolas, e dos efetivos (produção bovina, pequenos ruminantes, suínos, aves, apicultura) e realça que o abandono da produção de leite, associada a pequenas explorações, “foi notório” no Alto Tâmega, Alto Minho e Planalto Mirandês.

Destaca ainda a crescente importância da agroindústria no comércio internacional, o qual, conjuntamente com o setor florestal, representa 12% das exportações em Portugal, equivalendo a 5% do Produto Interno Bruto (PIB).



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