A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) está envolvida, em conjunto com as universidades do Minho e da Beira Interior, num projecto de estudo sobre a prostituição na região fronteiriça do norte do país até Bragança. A iniciativa, que decorre até ao final do ano, é financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, no âmbito do Programa Sapiens/99.
Manuela Ribeiro, que está envolvida neste projecto há dois anos, afirma que a prostituição nesta zona \"é um fenómeno muito recente\" e que impera aqui a prostituição abrigada, isto é, praticada em clubes ou residências privadas. Além disso, segundo ela, as prostitutas não têm um vínculo empresarial com o clube onde \"trabalham\", o que as torna autónomas, podendo mudar de clube \"quando bem entenderem\".
Os investigadores, que para a realização deste trabalho tiveram de frequentar diversos clubes, notaram um \"elevado\" número de prostitutas de origem estrangeira, a maioria brasileiras e \"grande parte\" em situação ilegal. Muitas entram no país como simples turistas, mas acabam por ficar e dedicar-se a esta actividade. Outra constatação é que \"grande parte\" delas diz ser religiosa. E perante a questão sobre o que poderá Deus pensar acerca da sua forma de vida responderam: \"Ele é o último que me poderá julgar, porque é o único que sabe verdadeiramente as motivações que me levaram à prostituição\". Manuela Ribeiro defende por isso que \"a grande maioria destas mulheres se prostitui apenas pelo dinheiro fácil que enviam para as suas famílias nos países de origem\".
Os investigadores constataram também que existe uma diferença entre Portugal e Espanha. Enquanto no país vizinho existe um comité anti-sida que presta apoio e formação às prostitutas, em Portugal não existe no terreno qualquer organização governamental ou não governamental.
Manuela Ribeiro explica que este estudo visa, entre outras coisas, \"conhecer as formas do exercício da prostituição, os seus protagonistas, e identificar e analisar referências institucionais e legais relevantes no enquadramento do universo da prostituição feminina em geral e em particular na região em estudo\". \"Sendo a mulher o núcleo central dos interesses deste projecto, queremos saber essen-cialmente as suas reais condições de existência, os constrangimentos, problemas, riscos que lhes condicionam o quotidiano de vida e de trabalho, as representações e avaliações que fazem da actividade a que se dedicam, as motivações, expectativas e finalidades que as orientam, para assim se poderem fundamentar sugestões e propostas de acção política e social tendentes a melhorar os seus contextos de vida e propiciar-lhes condições para poderem decidir o seu futuro\", explica a investigadora.
Apesar da \"cultura do silêncio\" que existe na área da prostituição, os investigadores já realizaram 120 entrevistas. Manuela Ribeiro salienta que tem havido muitas dificuldades e disse mesmo que não pretende revelar mais pormenores do projecto sem que este esteja completamente concluído, até porque receia que muitas das ameaças de que já foi alvo sejam postas em prática.