Um estudo divulgado hoje revela que a reabertura do troço Pocinho – Barca d’Alva, na Linha do Douro, representa um investimento global de 75 milhões de euros e terá um "forte impacto" no turismo, recomendando a sua execução.
A Linha Ferroviária do Douro atualmente liga o Porto ao Pocinho (171,522 quilómetros) e há vários anos que é reivindicada a reabertura dos cerca de 28 quilómetros entre o Pocinho (Vila Nova de Foz Côa) e Barca d’Alva (Figueira de Castelo Rodrigo), desativado em 1988.
A reabertura deste troço é defendida por autarcas, instituições e população que defendem tratar-se de um investimento prioritário para o transporte de pessoas e mercadorias, turismo e ambiente.
O estudo de viabilidade económica da reabilitação da Ligação Ferroviária Pocinho/Barca d’Alva, desenvolvido pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), aponta para uma estimativa global de custos na ordem dos 75 milhões de euros, dos quais 60 milhões de euros serão destinados à obra de reabilitação, 3,5 milhões de euros para projetos e 11,2 milhões de euros para fiscalização e estaleiro.
E conclui que o “projeto é rentável do ponto de vista económico, com os benefícios económicos, sociais e ambientais a superarem os custos”, pelo que, sublinha, “recomenda-se a sua execução”.
Quanto às fontes de financiamento, o documento, hoje apresentado em Freixo de Espada à Cinta, distrito de Bragança, refere que, na esfera pública, deverão ser consideradas possibilidades como o Orçamento de Estado ou o Programa Regional Norte 2030.
E lembra que o programa Norte 2030 tem prevista uma dotação orçamental de 92 milhões de euros para investimentos na ferrovia, nomeadamente nas linhas do Douro (troço Peso da Régua – Pocinho), do Vouga e estudos no Sousa.
Neste contexto, diz que deve ser estudada a possibilidade de financiar o troço Régua – Pocinho pelos mecanismos nacionais e/ou europeus associados ao Plano Ferroviário Nacional 2030 (PFN2030), libertando a respetiva dotação para o financiamento da ligação Pocinho – Barca d’Alva pelo Programa Norte 2030.
O estudo revela ainda que os benefícios totais “são de 84,2 milhões de euros” e que o troço reaberto irá gerar “importantes impactos” no setor do turismo (hotelaria, restauração, transportes), permitindo mitigar a tendência de decréscimo da população residente.
“No total dos 26 anos de exploração do projeto, o valor acrescentado bruto (VAL) na fileira do turismo irá aumentar em 101,2 milhões de euros a preços constantes e serão criados mais de 4.700 postos de trabalho, sendo que as atividades económicas mais beneficiadas serão a hotelaria e a restauração”, salienta.
De acordo com o documento, o VAL do projeto “é de 42,5 milhões de euros e a taxa interna de rentabilidade económica (TIRE) é de 8,04%”.
O estudo aponta ainda para “uma procura diária de 256 passageiros no primeiro ano e de um crescimento constante ao longo do tempo, sendo que as principais motivações para a sua utilização são o lazer e o turismo”, referindo que, na simulação mais pessimista, ou seja de inexistência de impactos no turismo, o projeto “deixaria de ser rentável do ponto de vista económico”, confirmando, assim, a “centralidade da atividade turística na sua viabilidade”.
O projeto tem uma dimensão regional, com impactos económicos principalmente nos municípios diretamente servidos por este troço, designadamente, Figueira de Castelo Rodrigo, Vila Nova de Foz Côa, Torre de Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta, mas que se estendem a todo o território do Douro e a concelhos da região Centro.
O projeto também produz benefícios noutros setores e produtos, serviços recreativos e culturais, bem como noutros “domínios importantes para o desenvolvimento sustentável dos territórios”, designadamente reduz os custos de transporte, melhora a mobilidade e a qualidade ambiental, reduz a poluição e combate as alterações climáticas, e contribui para reduzir a sinistralidade junto dos residentes e visitantes.
O estudo indica ainda que a reabertura deste troço da Linha do Douro representa uma redução do tempo de viagem em cerca de “30 minutos”, quando comparado com a alternativa rodoviária existente.
Neste cenário de reabilitação, manter-se-á a via única balastrada com bitola ibérica, embora eletrificada.
Em 2020 foi entregue, no parlamento, uma petição com 13.500 assinaturas em defesa da reativação da linha até Barca d’Alva e ligação a Espanha, uma iniciativa promovida pela Liga dos Amigos do Douro Património Mundial (LADPM) e a Fundação Museu do Douro.
A Assembleia da República aprovou em 2021, por unanimidade, projetos de resolução do BE, PAN, PSD, PCP e PEV que defendem a requalificação da Linha do Douro e a reabertura até Barca d’Alva.
Fotografia: Antonio pereira