Ana Aurora, proprietária de uma tabacaria em Feces, Verín, vende tabaco e chocolate aos portugueses. Mas, por vezes, os papéis invertem-se. Vai a Chaves comer bacalhau ou pernil e comprar vinho do Porto, «muito apreciado». Paco, dono de um bar com o mesmo nome e com «99,9%» de clientes portugueses, só atravessa a fronteira para «tomar um copito»?. «aqui é tudo mais barato. Os portugueses vêm à gasolina, ao gás... vêm buscar tudo!», justifica.

Sílvio Lopes, um empresário flaviense na área da distribuição de bebidas, vende aos galegos coca-cola, água tónica... e compra lá tabaco. \"Com um tiro mato dois coelhos\". Afonso Cabeleira é do concelho de Chaves, mas instalou-se em Feces. Vende, entre outras mercearias, presuntos. \"Não somos tão apertados pelas autoridades. Se aparece um fiscal e vê alguma coisa mal ensina a pÎr as coisas direitas\", conta, especialmente satisfeito com o sistema de saúde de Espanha. \"Num mês e meio consegui marcar uma operação a um joelho que em Portugal andava a tentar há anos\".

Os exemplos retratam apenas a forte ligação comercial que, há muito, une localidades de portugueses com sotaque agalegado e galegos com sotaque aportuguesado. No entanto, a médio prazo, os laços entre Chaves e Verín poderão tornar-se ainda mais fortes, com a criação de uma eurocidade neste espaço. O projecto foi apresentado recentemente pela Câmara de Chaves à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte (CCDR- -N) e deverá ser candidato a fundos do próximo Quadro de Referência Estratégica Nacional. Por parte da Comissão, o apoio está garantido. \"Trata-se de uma experiência enriquecedora, interessante e criativa\", referiu ao presidente da Câmara de Chaves, João Baptista, o presidente da CCDR-N, Carlos Lage.

Aproveitando precisamente tudo aquilo que une os dois locais, a ideia passa por desenvolver uma série de políticas comuns nos dois territórios. No concreto, se o projecto for aprovado, e numa primeira fase, os dois municípios apostarão na criação de uma rede de transportes urbanos comum; na utilização conjunta de vários equipamentos; na elaboração de uma agenda cultural comum; na partilha de espaços destinados à logística, mas também na implementação de uma política comum no que diz respeito ao ambiente.

Não obstante as afinidades entre os dois povos, as eleições de domingo estão a passar ao lado dos portugueses. \"Quando falam em política é só para nos dizer que os nossos políticos são melhores do que os portugueses\", conta a galega Ana Aurora.



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