O projecto «Sabrosa Viva» recebeu verbas da Segurança Social, para combate à pobreza, num montante global de 542 mil euros, entre 2001 e 2005. Desse valor, apenas cerca de um quinto foi utilizado para a recuperação de habitações de famílias pobres, o principal fim a que se propunha. No final, foram devolvidos ao Estado cerca de 70 mil euros, que o projecto não conseguiu aplicar.
No município de Sabrosa, durante quatro anos, no âmbito deste projecto de luta contra a pobreza, foram recuperadas três casas, num apoio de 99 mil euros. Uma em Chanceleiros, outra em Sobrados e a terceira em S. Cristóvão.
Mais 1051 euros foram gastos na melhoria das condições económicas (não especificadas no documento, a que o JN teve acesso). Os restantes 441 mil euros serviram para diagnóstico, divulgação e organização (25 mil euros); equipamentos e serviços (109 mil euros); animação sociocultural, educativa e recreativa (45 mil euros). Em despesas correntes, que incluem gestão e ordenados de três técnicos, o projecto gastou nada mais nada menos do que 194 mil euros.
Rui Santos, director do Centro Distrital de Segurança Social de Vila Real, disse, ao JN \"Constatámos, que, no projecto «Sabrosa Viva», e ao fim deste tempo todo, o diagnóstico social e algumas situações de extrema carência não estão sinalizadas ou identificadas, o que achamos muito estranho\".
O projecto teve como entidade gestora a Associação Douro Histórico e entidade promotora a Autarquia e, sendo um projecto de luta contra a pobreza, financiou iniciativas como a Feira Medieval de Sabrosa. Entre outros equipamentos, foi, também, adquirida uma viatura, que, no final do projecto, ficou para viatura de serviço da Associação Douro Histórico. Vários equipamentos foram \"distribuídos\" por entidades locais, ao critério da mesma associação.
José Marques, actual presidente da Câmara Municipal de Sabrosa, lembra \"Durante a vigência do projecto, fiz parte dos parceiros, como coordenador do ensino recorrente e educação e formação de adultos. Só havia duas reuniões por ano, uma no início e outra no fim. Fiz várias críticas à forma como estava a ser gerido o processo e o dinheiro, que estão nas actas dessas reuniões\".
Orlando Vaz era, na época, presidente da Autarquia de Sabrosa e da Associação Douro Histórico, cargo que exercia por inerência, como presidente da Associação de Municípios do Vale do Douro Norte. Contactado pelo JN, nega que houvesse \"só duas reuniões por ano. De três em três meses, era necessário prestar contas ao Comissariado Nacional de Luta Contra a Pobreza\", refere.
O antigo autarca justifica que \"não houve mais intervenções em habitações porque os projectos não foram aprovados pelo comissariado. Fizemos um levantamento e apostámos em intervenções de pequena monta, em várias casas degradadas, mas a filosofia do comissariado inclinava-se mais para intervenções de maior vulto e, até, construções de raiz\".
Rui Santos tem \"bem presente que quer a Associação Douro Histórico, quer a Câmara de Sabrosa, como entidades gestora e promotora, tinham autonomia de gestão sobre o projecto\".