Compreendendo a Enxaqueca" é o título do livro da autoria do psicólogo Carlos Lo-pes Pires, apresentado na semana passada no ISLA de Bragança.

A obra, de uma "clareza meridiana", nas palavras de Videira Pires, docente daquela instituição incumbido de fazer a apresentação do livro, faz uma abordagem dos sintomas e tratamentos da enxaqueca, defendendo, quanto a este último, a eficácia dos tratamentos psicológicos. Uma teoria que fundamenta com um estudo comparativo entre dois grupos de pacientes sujeitos a dois tipos de tratamento, o farmacológico e o psicológico, e um terceiro grupo usado como placebo (sujeito a um falso tratamento).

Baseando-se nas conclusões que retirou da sua investigação, Carlos Pires afirma que o segundo tratamento (psicológico) é "pelo menos tão eficaz" como o primeiro, o que vai de encontro a outros estudos realizados nos últimos 20 anos noutros países. Assim, uma das "crenças" que o psicológico e docente pretende "desmistificar" com a obra é a de que não há alternativas ao tratamento farmacológico. A outra é a de que a enxaqueca é uma doença, o que, segundo este investigador, também é falso. Isto porque não se verificam nas pessoas que sofrem desta variedade de dor de cabeça, até há pouco tempo incluída na categoria da cefaleia vascular, "alterações de natureza orgânica permanentes". O que há são "alterações funcionais", que depois de cada crise normalizam, sendo que em algumas pessoas tais alterações não chegam a detectar-se.

Trata-se, portanto, apenas de "uma desordem" de sintomas "desagradáveis", sendo um dos mais característicos a cefaleia (a dor de cabeça em si), embora possa ocorrer sem ela, sendo este um dos mais de uma dezena de tipos de enxaqueca existentes.

Outros sintomas frequentes são alterações na percepção sensorial, náuseas, vómitos e uma falsa sensação de desmaio e de baixa pressão arterial.

Quanto aos factores que estão na origem desta "desordem", Carlos Pires aponta o stress, patente em 70 a 80 por cento dos casos; alterações hormonais, sobretudo nas mulheres; determinados medicamentos, nomeadamente os que se destinam a estabilizar alterações hormonais como a pílula e ainda factores climatéricos, alimentares e emocionais. Quanto à hereditariedade, Carlos Pires afasta-a como causa directa, pois embora admita que possam existir vários casos na mesma família, "isso não quer dizer que a enxaqueca seja de facto hereditária", defende.

A duração de cada crise pode ir de horas a dias e o seu tratamento é "difícil", admite Carlos Pires. Mas "há pessoas em que a resolução é espontânea". Nas mulheres, por exemplo, verifica-se frequentemente uma "redução dos sintomas" na gravidez. No entanto, conclui, "não há só um método eficaz e qualquer método pode resultar em qualquer pessoa".

A opção "mais fácil" para combater este problema é a farmacologia, mas, afirma, o autor da obra, "na maior parte das pessoas não resulta". Quanto às alternativas psicológicas, onde se inclui o feed-back biológico e o relaxamento, "não há muitos psicólogos a adoptarem essas técnicas", lamenta, deixando ficar a expectativa de que no futuro se faça formação nesta área para se constitua, de facto, como alternativa.

Até agora não existia qualquer publicação deste tipo em portu-guês, com uma abordagem tão "abrangente", um dos factores que, segundo o autor, contribuiu também para o aparecimento da obra, elaborada na sequência da tese de doutoramento de Carlos Pires, actualmente docente no ISLA de Leiria. De facto, a obra, para além de incluir o estudo de casos, aborda as vertentes médica, alimentar, farmacológica, psicopatológica e ainda aspectos relacionados com a personalidade, fazendo também uma avaliação das várias teorias conhecidas sobre a temática.

Os estudos epidemológicos revelam que 10 a 15 por cento da população sofre desta desordem funcional, uma percentagem que ascende para o dobro se isolarmos as mulheres.



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