Mas o Benfica, não obstante as suas reconhecidas carências, é sempre o Benfica das multidões e isso ficou mais uma vez demonstrado nesta bela tarde do Memorial Day em que um ruidoso público não se cansou de gritar e puxar pelos reservistas encarnados.
Note-se, porém,que quase todos os jogadores utilizados já passaram pela equipa principal o que vem atestar a tal debilidade benfiquista em termos de conjunto e de valores.Dos utilizados neste encontro apenas João Manuel Pinto (acaba a época emexcelente forma) e Jankauskas passam por ser agora titulares, mas há outros valores reais na equipa com lugar mais ou menos marcado na primeira linha, mas também não estaremos longe da verdade se dissermos que a esmagadora maioria também tem lugar marcado no primeiro voo com saída da Luz. São dezanove (19!) os jogadores que António Simões vai tentar colocar noutros clubes, e alguns desses estiveram no Pierce Field.
Mas o jogo até foi engraçado e teve algumas jogadas muito bem montadas por parte dos encarnados de Lisboa que contudo falharam sempre o último passe ou o último toque. De tantas oportunidades criadas só duas deram golo (Diogo Luís e João Manuel Pinto) mas Jankauskas, Porfírio, Andersson, Carlitos e Mawete Junior tiveram várias oportunidades de fazer o gosto ao pé.
Do lado contrário esteve uma equipa amadora e com muita falta de ritmo. Com apenas dois treinos por semana e dois jogos no fim de cada dessas semanas, a turma orientada por Mário Pereira deu aqui e ali um ar da sua graça e até teve duas oportunidades de golo feito, uma delas defendida em cima da linha de golo e a outra com o esférico a bater na barra.
Para estes abnegados rapazes, valeu o esforço e o prazer de jogar frente a um adversário com tanto nome, eles que, agora sim,viram o campo quase cheio, ao contrário da centena de pessoas que costumam ver dispersas pelas bancadas do seu estádio. Há ali, contudo, nomes que bem limados e em outras circunstâncias poderiam ter chegado mais longe, mas as oportunidades desta vida não são para todos. Acontece muito no futebol e em outros ramos davida de cada um.
Mário Pereira era um homem contente no fim do jogo, ele que com dois amigos arriscou avultada quantia em dinheiro para ter o Benfica em East Providence.
Venceu em todas as frentes o antigo avançado da Académica de Fall River, que com Jorge Rodrigues e companheiros souberam dar uma lição de como se deve receber tão ilustre visitante.
A aposta monetária foi também ela um sucesso e daí o contentamento de todos os que acreditaram que este Benfica nos nossos dias é sempre motivo de aposta com garantias de lucro.
Satisfeitos ficaram também os responsáveis benfiquistas. O antigo magriço António Simões chefiou a pequena caravana e elogiou a maneira como foram recebidos. Para este director do Benfica os objectivos traçados foram atingidos. Ganhar algum dinheiro (cerca de 130 mil dólares) nesta curta digressão e manter os jogadores em actividade por mais uma semana, já que todos entram agora num período de cinco semanas de férias.
Aclarar ideias e arrumar questões para um futuro próximo, sabendo-se, como se sabe, que alguns destes jogadores têm mesmo que sair, nem todos por falta de talento mas por falta de carisma e sentido de responsabilidade para com um emblema com tamanha tradição. Jesualdo Ferreira, o treinador que ganhou a confiança dos benfiquistas, também se mostrou satisfeito, ele que já tem anotados os nomes dos candidatos a dispensas, condicionados, como se sabe, às lei da compensasão monetária. “Erros de um passado recente que não convém repetir” – disse a determinada altura, ele que entende a política de contencão de despesas por parte de Manuel Vilarinho, ansioso que está este pela redução do enormíssimo passivo do clube.
Fernando Chalana e Shéu, nomes de um Benfica tão diferente, lá estavam nas suas missões, o primeiro grato pelo reconhecimento que agora lhe é dado depois de um período demasidamente dilatado na prateleira.
Em suma, um Benfica modesto, este do Pierce Memorial Field, mas por vezes um pouco de humildade não fica mal, até por se saber, e por ser verdade, que não se pode viver eternamente a relembrar o passado, quando o futuro é sempre mais importante.



PARTILHAR:

Comemorações do primeiro centenário

Este ano na sua terceira edição