Uma manifestação de pais e habitantes de Podence, em Macedo de Cavaleiros, está anunciada para terça-feira, contra o encerramento do jardim de infância na aldeia dos Caretos Património da Humanidade.
Laura Pascoal tem um filho no jardim de infância e faz parte do movimento de protesto contra o encerramento e contra a forma como foi decidido sem ter sido comunicado aos encarregados de educação, segundo disse à Lusa.
“Ainda ninguém teve a coragem de chegar ao pé de funcionários e encarregados de educação e dizer ´a escola no fim do ano vai encerrar´, soubemos por terceiros”, afirmou.
A vereadora com o pelouro da Educação na Câmara de Macedo de Cavaleiros, Sónia Salomé, confirmou à Lusa que o jardim de infância encerra no final do ano letivo e que pretendia conversar com os pais, mas a informação chegou antes à aldeia.
Os encarregados de educação aperceberam-se do fecho também porque “nesta altura já deviam estar as matrículas feitas, o que não está a acontecer”, como indicou Laura Pascoal, que tem um filho de três anos.
O filho de Rafaela Martins completa seis anos e vai frequentar o primeiro ciclo, no próximo ano letivo, em Macedo de Cavaleiros, mas a mãe defende que a manifestação marcada para terça-feira à tarde, em frente ao jardim de infância, é para que “outras crianças possam continuar” em Podence.
A possibilidade do encerramento já era conhecida de todos e Laura Pascoal diz que, localmente, já foram apontadas várias justificações.
“Primeiro disseram que iria fechar porque seria cedida aos Caretos, agora diz que era para um centro de dia e que não há crianças para continuar a funcionar”, concretizou Laura.
Tanto Laura como Rafaela contestam o argumento da falta de crianças, pois consideram que, se há poucas e se continuam a fechar serviços, “vai ser complicado”.
Apontam ainda a deslocação que as crianças terão que fazer para a sede de concelho e que a vereadora da Educação, Sónia Salomé, garantiu à Lusa pouco irá alterar nas rotinas diárias.
Segundo a autarca, apenas uma das crianças que frequentam atualmente o jardim de infância é de Podence, já que as restantes são de outras aldeias em volta e são transportadas pelo circuito escolar.
Podence fica ao lado da cidade de Macedo de Cavaleiros, o que, nas contas da vereadora serão “apenas mais cinco, seis minutos de viagem”.
“Eu sei que os pais estão revoltados, mas não estamos a falar de grandes deslocações, não estamos a falar em os miúdos se levantarem mais cedo ou mais tarde”, afirmou.
Disse ainda que, no ano letivo em curso, estão inscritas 14 crianças em Podence, “mas estão a frequentar pouquíssimas”.
A segurança foi, segundo a autarca, o fator determinante para a decisão tomada por unanimidade no Conselho Municipal de Educação, onde estão representados também os pais, e com o acordo da Direção-geral dos Estabelecimentos Escolares (DGESTE).
O jardim de infância funciona na antiga escola primária, que precisa de obras e que se localiza mesmo em frente à casa dos tradicionais Caretos de Podence, elevados a Património da Humanidade.
Nas datas mais emblemáticas, como são as comemorações do reconhecimento e o Entrudo Chocalheiro, o jardim fecha alguns dias e ao longo do ano os turistas que passam na aldeia utilizam o recinto escolar.
“A DGESTE não vê com bons olhos isto e é uma questão de segurança acima de tudo e nós não facilitamos”, vincou a vereadora.
Acrescem ainda, para a autarca, “questões relacionadas com a educação e desenvolvimento” destas crianças que não têm as mesmas condições que as que frequentam os polos com outros níveis de ensino.
Contactado pela Lusa, o presidente da Associação dos Caretos de Podence, António Carneiro, disse que a coletividade dos tradicionais mascarados não é parte neste processo e que também ele está “contra qualquer encerramento” na aldeia.