Os feirantes que hoje participaram na feira de Vila Real mostraram-se preocupados com a falta de clientes e apreensivos com o futuro, porque a maior parte destes certames foram cancelados na região por causa da pandemia de Covid-19.

A Câmara de Vila Real decidiu manter a feira do Levante, por se tratar de um espaço ao ar livre, e o mercado municipal que, no entanto, passará a funcionar com restrições.

Esta manhã, os feirantes contactados pela agência Lusa queixaram-se de que praticamente não tiveram clientes.

“Correu muito mal, quase nada. Se levo 20 euros para casa é muito. A esta hora não está ninguém na feira e já estamos a recolher as coisas”, afirmou Gorete Braga, residente em Lamego.

Esta comerciante mostrou-se apreensiva com a incerteza dos dias que correm até porque, lembrou, nos concelhos à volta a feiras estão a ser canceladas.

“Na quarta-feira já não se pode fazer a Régua, Lamego também vai fechar e o que é que nós vamos fazer? Temos as nossas contas para pagar, a família para alimentar e ninguém nos perdoa as dívidas que nós temos. Vamos precisar de muita ajuda”, frisou.

Gorete Braga acredita que foi por causa do medo provocado pelo novo coronavírus que “quase ninguém” passou hoje por este espaço, que fica próximo da unidade de Vila Real do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD).

Mónica Inácio, feirante há 19 anos, referiu que a suspensão das visitas aos doentes internados no centro hospitalar também teve repercussões na feira.

“Com estas restrições todas as pessoas têm medo de vir aqui. Já sabia que íamos sentir uma quebra, mas nunca pensei que fosse assim. Hoje não vendi nem uma peça de roupa”, salientou, mostrando o bolso do avental vazio.

Mónica Inácio disse que o “futuro é incerto”. “A nossa profissão é muito complicada. Já vivemos crises relacionadas com o mau tempo, crises na economia, a ‘troika’ e sempre fomos sobrevivendo. Hoje vendi zero e vou para casa consoante vim”, afirmou.

João Anjos, de Lamego, salientou que a feira é a “única fonte de rendimento” da sua família.

“Eu não sei o que é que a gente vai fazer para ganhar dinheiro, não sabemos mesmo o que vamos fazer para sobreviver porque isto está a mexer com tudo. Uma feira que eu fazia 300 a 400 euros e hoje fiz 50 euros. As pessoas têm medo de sair de casa”, afirmou Joviano Cardoso, de Peso da Régua.

Ao lado, Manuel Domingos, feirante há 30 anos, queixou-se de que sem feiras “não há mais nada para fazer”. “Temos preocupações com a doença, claro que sim, mas esta altura vai ser muito complicada, ainda por cima está a chegar a Páscoa que era uma época em que fazíamos mais negócio”, referiu.

O número de casos confirmados em Portugal de infeção pelo novo coronavírus, que causa a doença Covid-19, subiu hoje para 112, mais 34 do que os contabilizados na quinta-feira, e os casos suspeitos duplicaram para 1.308.

Segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), dos 1.308 casos suspeitos, 172 aguardam resultado laboratorial.

Há ainda 5.674 contactos em vigilância pelas autoridades de saúde.

Em Portugal, o Governo decretou na quinta-feira o estado de alerta, colocando os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança em prontidão.

Foram igualmente suspensas, a partir de segunda-feira, as atividades letivas e restringido o funcionamento de discotecas e similares e suspensas as visitas a lares em todo o território nacional.

A doença Covid-19, provocada pelo novo coronavírus, foi classificada como pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na quarta-feira.

Em todo o mundo já foram infetadas mais de 131.000 pessoas e morreram mais de 4.900.



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