No concelho de Mirandela a aldeia de Vale de Salgueiro assinala anualmente de forma muito original o Dia de Reis. Uma tradição popular secular que se repete todos os anos com o mesmo rigor nos dias 5, 6, 7 e 8 de Janeiro.

Não se sabe ao certo a origem desta festa, nem as razões que levaram à realização da também conhecida Festa dos Rapazes de Vale de Salgueiro mas é uma tradição popular muito acarinhada pela população. No entanto, nos últimos anos o enfoque da comunicação social aponta sempre para a questão dos rapazotes fumarem deixando de lado o que de mais importante tem esta celebração. E afinal o que acontece nos dias 5 e 6 de Janeiro em Vale de Salgueiro?

Todos os anos é coroado um Rei, que com a sua família fica incumbido de organizar a festa do ano seguinte. Os preparativos da festa começam a 25 de Dezembro, dia em que o rei e a sua família colocam os tremoços de molho, que depois vão ser cozidos.
A família do rei organiza a festa entre o Natal e o Ano Novo, depois dos tremoços é preciso comprar o vinho e também fazer a recolha do ouro pela aldeia. Com esse ouro emprestado é decorada a coroa do rei que pode atingir um valor elevado.

No final do dia 5 de Janeiro o rei e a sua família, amigos e jovens da aldeia reúnem-se na entrada de Vale de Salgueiro à espera do Grupo de Gaiteiros. Quando chegam é o arranque da festa e para o sinalizar é dada a primeira volta a todo o povo, com música e muita animação.

Não sendo o que mais se destaca nesta tradição, mas por vezes o que é mais focado, durante este primeiro desfile os mais novos têm permissão de fumar, uma tradição pouco comum que simboliza no fundo a emancipação dos rapazes. A festa dura dois dias e a permissão dos pais para fumar termina no fim da festa. Noutros tempos só fumavam os rapazes, agora já fumam todos, mas sempre sob o controlo dos mais velhos.

A noite de dia 5 de Janeiro é já muito animada e o rei faz a primeira visita a todas as casas distribuindo tremoços e vinho por todos.

Depois de percorrer todas as habitações da aldeia e distribuir cerca de 300 quilos de tremoços e 100 litros de vinho faz-se a ceia, também oferecida pelo rei a todos os que o acompanharam nesta primeira visita à aldeia.

Entretanto, no centro da aldeia, prepara-se o baile e, quando o rei chega, as pessoas são convidadas a dançar a “Murinheira”, uma dança típica, ao som das gaitas de foles e dos bombos.

Dia 6 de Janeiro

É precisamente às 6 horas da manhã que o grupo de gaiteiros toca a alvorada dando assim o arranque do segundo dia de festa. Neste dia o rei veste-se a rigor de fato e são lhe colocadas luvas brancas, na cabeça leva a coroa devidamente enfeitada com todo ouro emprestado pelos habitantes de Vale de Salgueiro. Além disso, leva um pau ornamentado e encimado por uma laranja, onde se colocam quatro libras de ouro.

Depois de devidamente preparado o rei começa então a visita por todas as casas da aldeia a desejar as boas festas, isto ao som das gaitas de foles e dos bombos. Em troca, a população oferece um donativo para custear a festa.

Depois de dar as boas festas à população de Vale de Salgueiro segue-se a missa cantada em homenagem a Santo Estevão e “é aqui que o rei selecciona o seu sucessor”. Os mais antigos contam que nunca deve ser negada esta nomeação, parece que quem não aceitar ser rei pode ter uma vida azarada depois.



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