O butelo e a casula são dois produtos transmontanos capazes de promover verdadeiras romarias às mesas dos restaurantes de Bragança. Esta ligação entre aproveitamentos da carne de porco e cascas de feijão secas, motiva um festival de 21 a 26 de fevereiro e uma semana gastronómica. No mesmo período decorre o Carnaval dos Caretos.
Quis o engenho e criatividade de gerações de cozinheiras e cozinheiros anónimos elevar à categoria de iguaria produtos simples, ligados a territórios rurais. Em Trás-os-Montes, mais concretamente no distrito de Bragança, a cozinha reserva-nos uma mesa robusta e com alimentos há séculos ligados à região. Singularidades que também devem ao isolamento a que o território esteve votado. Nele, desenvolveram-se comeres únicos.
Dois deles, desconhecidos de grande parte da população portuguesa, são o butelo e as casulas. O primeiro é um enchido envolvido pela bexiga ou pelo bucho do porco e composto pelo recheio dos ossinhos do espinhaço e das costelinhas, com alguma carne agarrada. É costume comer este enchido artesanal, típico das casas do distrito de Bragança, no sábado de Carnaval. Um prato que chega às mesas acompanhado pelas casulas (ou palhada), estas as cascas de feijão secas.
Com o intuito de promover estes dois produtos transmontanos, o município de Bragança reserva-nos, de 21 a 26 de fevereiro, o Festival do Butelo e das Casulas. Simultaneamente, 33 restaurantes da região apresentam as suas ementas com as duas especialidade até dia 24 deste mês.
No decorrer do Festival do Butelo e das Casulas haverá um espaço próprio com a presença de produtores locais. No evento, que decorre maioritariamente na Praça Camões, não faltará animação de rua com a presença dos típicos Caretos e os sons dos gaiteiros, assim como elogio à cozinha transmontana com a participação do chefe de cozinha Marco Gomes.
A iniciativa que decorre no período carnavalesco, reserva uma iniciativa também ligada ao entrudo na região. Os Caretos, homens e rapazes mascarados com trajes locais, percorrem as ruas das localidades anunciando a ocasião com os seus chocalhos. Uma tradição das festas de inverno transmontanas recriadas no decorrer do Festival.
Vista sobre o núcleo histórico de Bragança.
Para além dos pratos em destaque no festival, o município salienta à mesa do distrito, “a suculenta posta de vitela mirandesa, gado que pasta nos lameiros verdejantes”. Uma carne que não carece mais do que uma pitada de sal e brasas no ponto certo para ser servida. Tal como as costeletas de cordeiro e o cabrito de Montesinho (no extremo norte do distrito), de rebanhos alimentados com ervas dos montes.
Já os pratos de caça confecionam-se nos tradicionais potes, aquecidos no fogo sempre aceso, “de onde saem aromáticos estufados e opulentos arrozes que trazem à memória paladares antigos”, sublinha a autarquia.
Nos ribeiros de águas frias pescam-se as trutas, sempre saborosas, sejam preparadas em escabeche ou assadas na grelha, que requerem como único tempero o excelente azeite da região.
Nos enchidos, à lareira curam-se alheiras, chouriças, salpicões, presuntos, chouriços de mel.
No outono, dos bosques e dos soutos da região chegam os cogumelos e as castanhas, que marcam presença nas ementas em preparações cada vez mais inovadoras, tanto a acompanhar pratos de carne como em tentadoras sobremesas.
É indispensável também provar o mel de castanheiro, o mais característico do concelho de Bragança, tal como os méis de urze ou de rosmaninho.