Lusa
O diretor da Filandorra, em Vila Real, disse hoje que a companhia de teatro avançou com o ‘lay-off’, depois de suspender toda a atividade em março, e criticou a “falta de apoio” do Ministério da Cultura.
Se o cenário não fosse de uma pandemia, os atores da Filandorra - Teatro do Nordeste iriam hoje participar na Via Dolorosa, uma iniciativa da Câmara de Vila Real, integrada na programação da Semana Santa, que percorreria as ruas da cidade.
No entanto, por causa da covid-19, a companhia profissional suspendeu toda a sua atividade a 12 de março e todos os colaboradores foram para casa.
“Na terça-feira foi feito o pedido de ‘lay-off’ para os 10 colaboradores com vínculo efetivo”, afirmou à agência Lusa o diretor, David Carvalho.
A atividade dos restantes cinco trabalhadores independentes, que colaboravam com a Filandorra, foi também suspensa.
“Os próximos dois meses vão ser determinantes. Esperemos que possa haver uma solução para que este projeto com 34 anos não se perca, não acabe definitivamente. Nós queremos resistir”, referiu.
Apesar do coronavírus, David Carvalho afirmou que “a crise” da companhia se arrasta desde outubro, altura em que ficou a saber que não foi contemplada com o apoio sustentado bienal 2020/21 da Direção-Geral das Artes (DGArtes).
“A culpada é a senhora ministra da Cultura que deixou de fora companhias elegíveis e, em seis meses, foi incapaz de resolver o nosso problema e o de outro projetos”, salientou.
David Carvalho considerou também "insuficiente" a linha de emergência para o setor lançada pelo Governo e reclamou “medidas efetivas para o apoio ao tecido cultural”.
Nesta linha de apoio à cultura, cada projeto poderá ser apoiado com montantes até 20.000 euros, tratando-se de entidades artísticas, e até 2.500 euros, no caso de artistas.
“De qualquer forma, concorremos com um projeto a esses 20.000 euros, o que dá praticamente para um mês de salários e despesas efetivas de uma estrutura como a nossa”, referiu.
A Filandorra trabalha em rede com cerca de 20 municípios dos distritos de Vila Real, Bragança, Porto, Guarda e Viseu.
David Carvalho disse que esta é a “maior rede protocolada do país” e frisou que os municípios, "para já, mantêm os protocolos".
Esta rede, segundo o responsável, representa “cerca de 50% do orçamento do projeto”.
O diretor referiu ainda que, nestes meses de abril e maio, a companhia vai perder cerca de 35 mil euros devido ao cancelamento de espetáculos, de ações de formação e animação que estavam programadas.
“Ao longo destes 34 anos temos feito um trabalho no combate à iliteracia teatral, tivemos estreias singulares, criamos uma forte ligação com as escolas e com a identidade cultural das nossas comunidades”, afirmou.
A Filandorra nasceu em Vila Real e tem-se afirmado como uma companhia de território levando teatro a várias localidades de todo Norte do país.
Do seu histórico contam-se mais de 70 produções, cinco mil espetáculos e perto de um milhão de espetadores.
