O realizador do documentário, “1965 | Panreal um Edifício de Nadir Afonso” promove o filme por algumas cidades do país, com o objetivo de sensibilização das pessoas para a arquitetura modernista, como futuro património cultural de uma localidade.

Foi em 2017 que tudo começou. A primeira demolição clandestina do edifício da Panreal, ocorre de madrugada, José Paulo Santos (autor do documentário) decide criar um documentário sobre um dos edifícios mais antigos da cidade de Vila Real, “de uma sexta-feira para sábado de madrugada em que é demolido, exatamente aquilo foi sugerido para ser considerado património, logo aí percebi que alguma coisa estava a acontecer e seria altura de atuar, um país sem documentário é o mesmo que uma família sem álbum de fotografias.

Meticulosamente projetado pelo arquiteto/artista plástico flaviense Nadir Afonso, com destaque para as muitas entradas de luz, com alguns pormenores que nos fazem lembrar Oscar Niemeyer (com quem trabalhou), foi durante dezenas de anos um dos principais estabelecimentos comerciais da cidade de Vila Real. Neste local agora demolido, ficaram as memórias das pessoas que exerceram uma profissão, de quem escolheu aquele local para celebração de casamento (conforme caracterizado no documentário) ou quem fosse um cliente habitual, “eu tenho recordações da Panreal, a minha avó fazia a bola em casa e podia cozê-la lá, eles tinham a panificadora aberta aos habitantes da cidade o que eram muito interessante”, recorda José Paulo Santos.

Durante a rodagem do documentário, o realizador cruzou-se com muitas pessoas com ligações à Panreal, mas devido a estar desativado há cerca de vinte anos algumas pessoas acabaram por se desinteressar pelo mesmo, “as pessoas foram-se desligando do edifício, o que foi uma pena”.

Foram três longos anos de vigílias, manifestações, tertúlias e uma exposição (organizada pela Associação Cara Cidade) sobre este icónico edifício, com o objetivo de sensibilizar as pessoas para uma arquitetura modernista, “foram feitas muitas coisas, por muita gente para sensibilizar as pessoas para que pudessem reconhecer o valor do edifício e mesmo assim as pessoas não tiveram esta sensibilidade, em termos culturais Vila Real não é uma cidade rica e tinha aqui uma excelente oportunidade de manter este edifício”, afirma. A luta para a permanência do edifício, chega à Assembleia da República, onde a maioria dos partidos manifestaram-se a favor, devido ao interesse que este tinha a nível histórico e local, foi ainda criada uma petição, “quando nós nos apercebemos que a petição para a não demolição é assinada pelo Siza Vieira, pelo Souto Moura, quando temos estas pessoas a defenderem este edifício, porquê que o edifício foi abaixo? O quê que aconteceu? O quê que esteve por detrás? Dá que pensar…”

O espaço considerado privado, onde foi construído o imóvel em 1965, a autarquia decidiu de não classificar o edifício de interesse municipal, tendo sido adquirido pela cadeia de supermercados Lidl, com o objetivo de ampliação da sua loja em Vila Real, o que não se verificou, “não foi para acrescentar o supermercado, mas para acrescentar o estacionamento, ou seja é demolida uma obra de arte para se fazer um estacionamento para 25 carros”, refere.

Espalhados pelo país há inúmeros edifícios como a Panreal, de interesse arquitetónico e cultural que se devem manter. Foi nesta perspetiva que o realizador pretende chamar atenção mostrando o seu documentário nalgumas cidades do país, “o meu objetivo é mostrar o filme e que outras Panreais que existam pelo país fora, não tenham o mesmo fim e que as pessoas tenham sensibilidade para perceber que a arquitetura modernista, apesar de ser muito recente é algo que vai ser valorizada daqui a 50/60 anos”.

Por último o realizador refere ainda que este documentário é também uma homenagem pessoal a Nadir Afonso, que consegue eternizar para memória futura, “hoje se alguém quiser fazer um filme sobre o edifício já não consegue, porque já não existe, porque infelizmente as pessoas se quiserem ver alguma coisa em audiovisual sobre o edifício, vão ter de recorrer ao meu filme, antes não fosse assim, mas por outro lado sinto que fiz um verdadeiro serviço público em ter feito esta recolha e ter construído este filme para memória futura”, conclui.

 

Trailer 1965 | Panreal, um edifício de Nadir Afonso um filme de José Paulo Santos

 

 



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