São 17 os castanheiros clones criados nos laboratórios do Centro Nacional de Sementes Florestais (CENASEF). O projecto teve inicio nos anos 60 com a recolha de castanheiros híbridos, uma mistura de castanheiros europeus e asiáticos, que se mostravam mais resistentes à doença da tinta.
Durante anos o avanço nos estudos foi pequeno, mas em 1992 a vontade de criar um castanheiro imune a esta doença foi motivo para o recomeço das investigações. Foram então identificadas as árvores e seguiu-se o processo de enraização. As estacas dos castanheiros foram plantadas em solo adverso, onde a probabilidade de infecção com fungos era muito elevada.
Feita a experiência, os resultados agradaram aos técnicos. Dos 17 castanheiros plantados, quatro demonstraram ser totalmente imunes à doença da tinta.
O engenheiro da CENASEF Carlos Silva, um dos elementos responsáveis pelo projecto, disse ao Semanário TRANSMONTANO que estes testes estão a ser feitos em relação a um fungo causador da doença e afirmou que "se tudo correr como até agora, pretendemos criar 25 mil estacas". E garante: "isto poderá inverter o fim dos castanheiros em Portugal".
Os novos castanheiros vão ser reproduzidos em viveiros privados e o secretário de Estado do Desenvolvimento Rural, Victor Barros, assegurou que se vai dar início à "multiplicação em série, que será posta à disposição dos agricultores daqui por dois ou três anos".
Quanto ao preço que cada agricultor vai ter que pagar por um castanheiro, Vítor Louro, da Direcção Geral das Florestas e supervisor do projecto do CENASEF, garante que "será o preço justo... mais ou menos o que pagam actualmente".
Entretanto, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro está a trabalhar em conjunto com o CENASEF para levar a informação até aos agricultores.
A doença da "tinta"
Chama-se doença da tinta devido à goma escura parecida com tinta de caneta que os castanheiros doentes libertam quando são cortados, e é conhecida em Portugal desde o século passado.
Os primeiros castanheiros a apresentar esta doença estavam localizados na foz dos rios Leça e Ave. Depois a maleita alastrou-se e desde o ano de 1900 que muitos hectares de soutos têm vindo a ser dizimados um pouco por todo o país, mas principalmente em Trás-os-Montes.
O fungo desenvolve-se na terra e espalha-se com bastante facilidade. Muitas vezes a culpa é das práticas agrícolas que são mal feitas, outras vezes o fungo dissemina-se através da água de rega e da chuva. Depois o fungo ataca as raízes do castanheiro e as consequências são dramáticas. Em algumas situações a arvore não dá castanhas, noutros casos o fruto é tão pequeno que não tem qualquer valor comercial.
A situação é grave para a economia nacional, já que Portugal produz em média 20 mil toneladas de castanha por ano e exporta 40 por cento dessa totalidade para o Brasil, França e Espanha. Contas feitas, representa um volume de negócios de dois milhões de contos.
Trás-os-Montes é a região do país mais afectada, pois encontra-se aqui cerca de 85 por cento da produção nacional.
Resta agora esperar cerca de cinco anos para que os pequenos clones cresçam e produzam boas castanhas em qualidade e em quantidade.