A vila de Murça foi palco, nos dias 25 e 26, do Fim-de-semana Oleícola, uma iniciativa conjunta da Cooperativa Agrícola dos Olivicultores e da Câmara Municipal desta localidade. Para além de um passeio todo-o-terreno, denominado \"Rota TT- Azeite Porca de Murça\", fez-se a benção e a prova do azeite novo, seguindo-se uma palestra sobre \"instalação, manutenção e protecção sanitária de olivais\" e \"azeite: qualidade e perspectivas de futuro\".
Questionado precisamente sobre o futuro deste produto, o presidente da Associação dos Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro, António Manso, afirmou que, \"para além do vinho e da cortiça, o azeite é um dos poucos produtos que irá perdurar e afirmar-se cada vez mais\". No entanto, o dirigente criticou a \"falta de organização\" do sector, que, na sua opinião, \"impede que o azeite português conquiste muitos mercados externos. Segundo António Manso, o facto de \"não termos o hábito de promover o nosso azeite\" poderá ser um \"entrave\" a essa conquista, a par da concorrência do azeite estrangeiro - principalmente espanhol - \"de fraca qualidade\" que entra no nosso país a preços baixos, influenciando os preços do azeite português no estrangeiro.
\"A qualidade do nosso azeite é indiscutível e reconhecida, sendo este considerado como um dos melhores do mundo, mas temos que melhorar a nossa capacidade de oferta e conquistar novos mercados\", defendeu o presidente da Associação dos Olivicultores transmontanos.
António Manso salientou também que \"existem alguns países com poder de compra que estão a descobrir o azeite e, por isso, deverão ser a nova aposta dos produtores portugueses\", como é o caso da Austrália e dos Estados Unidos. O dirigente apelou ainda para uma aposta nas \"qualidades\" do azeite português e para a \"manutenção da cultura do azeite na região\".
No que toca à produção deste ano, as condições climatéricas que se têm feito sentir não têm ajudado. A produção é muito mais baixa que o esperado e a azeitona que foi apanhada mais tarde acabou por ficar contaminada, devido às chuvas. Na Terra Quente, a produção deste ano ficou-se pela metade da esperada. Noutros concelhos, a produção foi de 30 por cento abaixo das estimativas. No entanto, segundo António Manso, o azeite proveniente da azeitona que foi apanhada antes das chuvas \"é de óptima qualidade\". O que o dirigente já não garante do azeite proveniente das restantes azeitonas. Mas, mesmo assim, assegura que a azeitona proveniente dos 70 mil hectares da região de Trás-os-Montes e Alto Douro, produzida pelos cerca de 35 mil olivicultores da região (a grande maioria constituída por médios e pequenos produtores), \"tem a qualidade que já é reconhecida internacionalmente\".
Quanto à Cooperativa Agrícola de Murça, o seu presidente, Alfredo Meireles, diz não ter tido \"razões de queixa\" no que toca ao escoamento do azeite aí produzido. Da sua lista de exportações constam já a Alemanha, Macau e a Áustria, mas esta agremiação pretende neste momento conquistar outros mercados. Alfredo Meireles garante que a Cooperativa \"tem capacidade para exportar mais do que actualmente\".
Esta ano, a Cooperativa Agrícola de Murça também viu reduzir a produção de azeite na região, que sofreu uma quebra de cerca de 40 por cento. Alfredo Meireles garante que a qualidade do azeite das primeiras azeitonas apanhadas é \"indiscutível\", mas \"coloca algumas dúvidas\" quanto às restantes.