Uma fotografia antiga, umas calças e uma lanterna foi o que Domingos Calvão conseguiu salvar do centenário solar onde vivia na aldeia de Vilela Seca, Chaves, atingido por um incêndio que destruiu toda a história da vida da família.

Quando o filho de 24 anos, Miguel Calvão, chegou à aldeia do norte do distrito de Vila Real, toda a propriedade já estava tomada pelas chamas.

A noite deu realce às grandes labaredas que ainda eram visíveis dentro da casa antiga, construída em 1920.

“Fiquei mais descansado por ver o meu pai, mas perdi tudo. Perdi a minha vida aqui”, afirmou Miguel Calvão, apontando estar preocupado porque o pai não lhe atendia o telemóvel.

O incêndio começou sexta-feira à tarde em Bustelo, concelho de Chaves, distrito de Vila Real, foi dado como dominado durante a madrugada, mas esta tarde verificou-se uma reativação que ganhou grande dimensão devido ao vento forte e altas temperaturas.

“Vou-me formar na segunda-feira. Já ontem [sexta-feira] estive aqui, pensei que já estava controlado e chego aqui hoje e já não vejo nada”, referiu.

Ficaram, descreveu, as pedras e as paredes, mas tudo o resto que havia, todo o recheio, todas as memórias, todas as fotografias que contavam a história da sua família foram destruídas pelas chamas.

Domingos Calvão estava na propriedade quando o fogo chegou, pelo telhado, e saiu de lá apenas com um retrato antigo, a preto e branco, da sua mãe, umas calças e uma lanterna. Tudo o que tinha na mão.

“Ainda não estou em mim, estou em choque. Estou a tentar ser forte, mas os sentimentos que me assolam são… é muito difícil”, referiu Miguel, lembrando que tinha um projeto de agroturismo para implementar na quinta, localizada no meio da aldeia de Vilela Seca.

A prioridade agora é, contou, arranjar um sítio para o pai ficar, provavelmente com familiares.

Quanto à recuperação da casa, disse que “não há seguro” e, para já, não sabe o que fazer.

Apesar do choque, Miguel Calvão desabafa que não entende como “um país tão pequeno tem tantas ignições” e pede “pena pesada” para quem destrói “toda uma vida de trabalho e de projetos”.

“Eu praticamente nasci aqui, os primeiros passos que dei foram aqui, o meu avô também, os meus avós, chegou a ser uma casa de férias, era a casa de Natal da família e agora não resta nada”, frisou.

À volta da aldeia arderam alguns campos agrícolas, bem como mato e pinhal.

Este incêndio provocou ainda preocupações em Vila Meã e Agrela e terá ainda atingido outras casas devolutas na aldeia de Torre de Ervededo, bem como danos em outras de primeira habitação.

Para o terreno foram mobilizados 313 operacionais e 96 viaturas. No local estão bombeiros, militares da GNR e da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro (UEPS), Força Especial de Proteção Civil, INEM e elementos da Proteção Civil municipal.

Foto: TVI



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