Dezenas de produtores e até os bombeiros de Montalegre fazem o fumeiro que vão vender na feira, que decorre entre quinta-feira e domingo, e se tornou numa importante fonte de rendimento neste concelho transmontano.

Numa cozinha próxima do quartel dos bombeiros de Montalegre, secam-se as alheiras e chouriças que os voluntários vão vender numa barraquinha de comida instalada no recinto da Feira do Fumeiro, na sede deste concelho do distrito de Vila Real.

Joaquina Gonçalves, telefonista há 27 anos na corporação, contou que o trabalho é “todo feito pelos voluntários”, mulheres e homens. Os bombeiros compraram dois porcos caseiros, que desfizeram para confecionar o fumeiro que depois vendem na tasquinha.

“Tudo o que der para fazer fumeiro aproveita-se e o resto vai para cozidos. É também uma forma de ajudar os bombeiros, é uma mais valia para a ajuda dos bombeiros, porque as despesas são muitas e tem que se fazer alguma coisa extra para ajudar a associação”, referiu Joaquina Gonçalves.

Há 29 anos que a Câmara de Montalegre organiza a Feira do Fumeiro.

Rosa Moura, da aldeia de Medeiros, lembrou que, há umas décadas, a agricultura nesta terra fria de montanha assentava na batata e no centeio, produtos que deixaram de “ter saída e de dar dinheiro”.

Foi, por isso, que muitos começaram a dedicar-se à produção de fumeiro para venda. As batatas, o centeio e as abóboras servem, agora, para alimentar os porcos que, depois, são transformados.

“Fumeiro eu sempre fiz desde pequenina, que via fazer à minha mãe ou aos meus avós e desde que me casei sempre tive fumeiro”, contou.

Rosa Moura é uma das mais antigas participantes na feira e foi também uma das primeiras a ter uma cozinha licenciada no concelho, cumprindo todas as regras até ao “ponto de poder vender para o estrangeiro”.

“Foi devagarinho que fomos crescendo, tal como a feira”, afirmou.

Para o certame, “transforma quantos porcos as porcas parem”. Mais ou menos, referiu, “à volta de 30, 35” animais e conta com ajuda do marido e das duas filhas.

“Isto dá muito trabalho e tudo tem os seus custos. Mas dá para uma pessoa ao menos ir ganhando um dinheirinho para pôr em caixa. É um complemento ao rendimento familiar”, referiu.

Mais à frente, na Aldeia Nova, a azáfama é muita na casa de Lurdes Costa que já faz a feira de Montalegre há 20 anos e a de Boticas há 12.

“Já produzia antes. Primeiro andava com a minha sogra e com a minha cunhava e ajudava-as. Ia aprendendo e fazia para mim também. Depois é que me fui metendo também para dar alguma rentabilidade, como tenho duas filhas, é para ajudar, porque a vida aqui não é muito fácil”, afirmou.

Para Montalegre registou 20 porcos e disse que já tem “clientes certinhos”.

O sucesso do fumeiro vem da base dos animais. Vai da alimentação até chegarmos ao próprio produto final. Os animais são alimentados à base daquilo que vamos colhendo, centeio, batata, abóboras, milho, trigo”, referiu.

Aqui, garante, “ninguém ganha fortunas, mas dá para vender e ajudar as filhas a estudar”.

Fernando Pereira, técnico da Associação dos Produtores de Fumeiro da Terra Fria Barrosã, disse à agência Lusa que, pelo concelho, se espalham à volta de uma centena de produtores com cozinhas licenciadas.

A Feira do Fumeiro de Montalegre conta com a participação de cerca de 60 produtores que terão à venda entre “60 a 65 toneladas” de enchidos, desde alheiras, chouriças, sangueiras, bucheiras, farinheiras ou salpicões.

Fernando Pereira disse que, no recinto do certame, o volume de negócios estimado ronda o “um milhão de euros”.

À associação cabe fazer acompanhamento dos produtores e prestar apoio técnico ao produtor, nomeadamente no licenciamento da sua atividade e na formação (segurança alimentar).

A inauguração da Feira do Fumeiro de Montalegre, na quinta-feira, vai ser feita pelo secretário de Estado da Descentralização e da Administração Local, Jorge Botelho, e, na sexta-feira, será a vez da ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque, passar pelo certame.



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