O empreendimento turístico de 250 milhões de euros FunZone Villages, previsto para Alfândega da Fé, tem a oposição de um organismo estatal por causa da água que vai ter de disputar com as necessidades de regadio dos agricultores da zona.

O Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica (IDRa) deu pareceu desfavorável ao complexo projectado para Alfândega da Fé, apurou a agência Lusa junto do Ministério da Agricultura.
De acordo com esclarecimentos prestados pelo Ministério, por escrito, o IDRa entende que o complexo turístico «compromete» o futuro dos recursos hídricos daquela zona.

O presidente da Câmara de Alfândega da Fé, João Carlos Figueiredo, considerou, em declarações à Lusa, que se trata de um parecer de «alguém que tem apenas conhecimento no papel».

Segundo o autarca social-democrata, «esta questão está a ser levantada por causa de um plano de regadio previsto há mais de 20 anos e que ainda não foi totalmente concretizado».

O IDRa assegura que o seu parecer reflecte também as preocupações dos agricultores da zona, mas o edil diz não ter dúvidas se tivesse de optar.

«Se me pusessem a questão, entre 200 hectares de regadio para hortas de jardins e o empreendimento turístico, em definitivo eu prefiro o empreendimento», disse à Lusa.

Para João Carlos Figueiredo, está em causa, inclusive, o desenvolvimento agrícola do concelho, na medida em que o autarca acredita que o FunZone Villages vai estimular toda a economia local.

O problema é que necessitará de milhões de metros cúbicos de água por ano para parques aquáticos, piscinas e outros espaços de lazer, como uma praia coberta com ondas de dois metros de altura.

Tudo isto na mesma zona dos regadios do Aproveitamento Hidroagrícola de Alfândega da Fé (AHAF) e do Vale da Vilariça, um dos vales mais férteis do país, com potencialidades por explorar devido, exactamente, à falta de água.

O presidente da cooperativa agrícola de Alfândega da Fé, e também líder da oposição municipal, o socialista Eduardo Tavares, garante que «os agricultores não são contra o projecto». «O projecto até seria uma mais valia e nós somos a favor, desde que não prejudique o regadio existente e os agricultores», disse à agência Lusa.

Eduardo Tavares contou, também, que a cooperativa foi ouvida pelo IDRa e manifestou esta posição.

O dirigente agrícola lembra que a cooperativa tem 300 hectares de terrenos na zona, junto com outros agricultores, e que tem enfrentado sucessivos anos de seca.

O presidente da Câmara lembra que o plano de regadio que está na base da polémica ainda não se encontra concluído nem a metade do projectado.

A base deste plano de regadio é a barragem da Esteveinha, que o FunZone Villages quer também aproveitar como mais valia para a oferta turística.

O IDRa entende que o empreendimento turístico «merece parecer desfavorável por na área do projecto, coincidente com a beneficiada pelo AHAF, estarem previstas acções que não estão em conformidade com o regime jurídico, nem com a classificação da área pelo Plano Director Municipal (PDM)».

Entende ainda que deve ser ouvido o Instituto da Água, por forma a não ser posto em causa também o abastecimento às populações, já que a barragem de Esteveinha destina-se também a este fim.

Alerta, ainda, que a albufeira está classificada como protegida, o que limita as intervenções no local.

Fonte da empresa intermunicipal Águas de Trás-os-Montes disse à Lusa que «a solução para o projecto não é incompatível com os recursos hídricos existentes e já foi avaliada, faltando apenas acertar a tarifa com os promotores».

Apesar de considerar o projecto comprometedor do regadio, o IDRa concluiu que o parecer desfavorável pode ser ultrapassado, bastando haver «alterações ao PDM, que reclassifiquem e requalifiquem o uso do solo e excluam a área beneficiada pelo AHAF».

O presidente da Câmara está convencido de que «basta desanexar 50 hectares da reserva agrícola para resolver a questão», e espera conseguir chegar a um consenso com o IDRa.



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