Em apenas duas horas, a área envolvente da vila de Freixo de Espada à Cinta, numa faixa de cerca de dois quilómetros de largura, transformou-se num autêntico pantanal.

A quantidade de precipitação que caiu naquele espaço de tempo fez com que a água atingisse os três metros de altura nas zonas baixas daquela localidade do distrito de Bragança. Apenas um casal de idosos ficou desalojado e não houve feridos, mas os estragos são elevados. A Segurança Social inicia hoje um levantamento exaustivo dos prejuízos, que, no caso da agricultura, atingem a uva e a azeitona.

Tudo aconteceu ao final da tarde de anteontem. Uma forte chuvada acompanhada de granizo e trovoada provocou o caos. Bombeiros e Protecção Civil não tiveram mãos a medir e o INEM enviou uma equipa médica e uma psicóloga para o local. Carros arrastados e submersos, vivendas inundadas, estabelecimentos comerciais destruídos, um terço da colheita agrícola perdida e várias dezenas de animais domésticos mortos por afogamento compuseram um cenário que os freixenistas não vão esquecer tão cedo.

Vários equipamentos públicos foram afectados, como o arquivo municipal, o pavilhão gimnodesportivo e os paços do concelho.

Na área urbana da vila, muitos foram aqueles que apontaram o dedo ao mau assoreamento de um ribeiro que corre na zona central da localidade. \"Aquilo foi uma obra mal feita\", asseguravam os populares, enquanto outros argumentavam que \" a zona de escoamento entupiu e não houve uma drenagem suficiente\". O caso será transmitido à Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional.

Gabinete de crise no local

Entretanto, a Direcção Regional de Agricultura de Trás-os-Montes e Alto Douro enviou uma equipa de técnicos. Também o governador civil de Bragança esteve no local para avaliar as necessidades mais urgentes. A autarquia tem em funcionamento um gabinete de crise para os residentes darem contas dos estragos nas propriedades.

Na região, as vindimas já tinham começado há três dias e a adega cooperativa recebia os primeiros contentores de uvas. Com a intempérie, a estrutura ficou inundada e \"pode haver algumas dificuldades na recepção das uvas\", já que parte dos motores eléctricos ficaram danificados ou mesmo destruídos. Entretanto, há a garantia de que a situação vai ser avaliada no menor espaço de tempo, para que tudo volte à normalidade já na próxima semana.

O presidente da Câmara solicitou ajuda ao Governo no sentido de minimizar a situação, porque \"as débeis finanças da Autarquia não permitem grandes gastos\". A declaração de calamidade pública é para já um cenário que está posto de lado, mas vai ser feito um levantamento \"rigoroso da situação\" a ser entregue aos respectivos ministérios, prometeu. Entretanto, o ministro da Agricultura, Jaime Silva, disse, ontem, na Régua, que os prejuízos no sector \"não são os mais elevados, já que a intempérie se restringiu ao perímetro urbano da vila\". Os estragos nos terrenos agrícolas são \"mais ao nível da qualidade do que da quantidade\", referiu.

Na vinha, se as vindimas forem feitas nos próximos dias, os prejuízos serão minimizados, pois as uvas não terão tempo de apodrecer. No olival, a azeitona de mesa foi a mais prejudicada. No entanto, Jaime Silva assegura que esta \"pode ser utilizada para azeite\", baixando o prejuízo causado pela intempérie. Quanto à queda de muros e caminhos desfeitos, os agricultores podem recorrer à medida 5 do programa Agro, que disponibiliza apoios até 75%.

Banda Filarmónica pode não ter futuro

O fenómeno meteorológico ocorrido em Freixo de Espada à Cinta deve ser classificado de \"trovoadas associadas a aguaceiros fortes e queda de granizo\" e não \"tromba-d água. \"As trombas-dágua, quando acontecem, é no mar\", explicou fonte do Instituto de Meteorologia e Geofísica.

O futuro da Banda Filarmónica de Freixo de Espada à Cinta pode estar seriamente comprometido. A maioria dos seus instrumentos, sala de ensaios, material de apoio, partituras e mobiliário ficaram destruídos ou seriamente danificados por acção da forte chuvada que se bateu sobre aquela localidade. Os prejuízos rodam os 100 mil euros. Foi com muita emoção e lágrimas nos olhos que António Morgado, músico naquela filarmónica, relatou o sucedido ao JN\"Esta é uma grande perda cultural para o concelho; cresci na banda e agora assisto a este triste espectáculo, foi tudo por água abaixo\". Agora, é tempo de pensar no futuro e tentar recomeçar tudo de novo. E vão ser precisos apoios. Este ano foi feito um investimento que rondou os 35 mil euros.

Segundo o governador civil de Bragança, citado pela agência Lusa, vai ser agora solicitado apoio ao Ministério da Cultura para fazer face aos danos provocados nas instalações da banda de música local e também do Arquivo Municipal.



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