«Muito francamente, para um governo encorajar as pessoas a deixar o país, o governo tem de estar muito desesperado». A secretária-geral da Confederação Europeia de Sindicatos (CES), Bernadette Ségol , diz ainda que isso constitui «uma grande perda» para o país.

Em entrevista à Agência Lusa, em Bruxelas, a responsável sindical, comentando declarações políticas de elementos do governo sugerindo a emigração, disse que, do seu ponto de vista, «é claro que se os jovens deixam os seus países, a sua força, as suas ideias e a sua capacidade para construir o futuro perdem-se».

Apontando que, além de representar «uma grande perda economicamente, socialmente e psicologicamente», a secretária-geral da CES sublinhou que a saída de uma geração levanta também outras questões, designadamente «quem paga as pensões de quem fica».

Ségol diz todavia não censurar os jovens que emigram em busca de um futuro melhor: «por outro lado, temos de compreender. O que faria eu se tivesse 25 anos, (vivesse) na Grécia, e quisesse ter uma boa vida? Certamente tentaria várias soluções. Não os censuro».

A responsável garantiu ainda que, para a Confederação Europeia de Sindicatos, o desemprego dos jovens é a prioridade de topo, e defendeu que «também deveria ser a prioridade dos políticos».

«Claro que estamos preocupados com o emprego em geral, não é aceitável, mas quando se tem desemprego juvenil acima dos 20%, às vezes dos 40%, 45%, então está a destruir-se o tecido social».

A resposta passa por investir nas políticas ativas para o mercado de trabalho, o que, defendeu, só é possível com «dinheiro público», pelo que os governos, ao procederem a cortes na despesa pública, estão a travar a possibilidade de crescimento sustentável, fazendo dos jovens «as primeiras vítimas da recessão».

A secretária-geral da CES defendeu igualmente, a propósito da greve geral de quinta-feira, que a CGTP e a UGT devem estar unidas em ser «parte da solução» para os trabalhadores europeus, mesmo que assentes em «duas diferentes noções» da sua missão.

«Acredito que é muito importante que as centrais sindicais atuem como parte da solução». «Em Portugal temos duas diferentes noções da situação atual, e da forma como as centrais sindicais devem procurar uma solução. Não sei dizer qual a melhor, apenas creio que é muito importante para as centrais que permaneçam parte da solução, que procurem em circunstâncias especiais as melhores soluções para as pessoas».

Ségol lamentou ainda que haja medidas muito concretas no plano europeu do lado da austeridade, enquanto as ideias para estimular o crescimento são «vagas ou a médio e longo prazo».

«Saudamos o novo discurso sobre o crescimento, mas queremos ação e não apenas palavras. Do lado da austeridade temos medidas concretas, mas do lado do crescimento temos iniciativas muito vagas ou a médio e longo prazo», sustentou, apontando que não são por exemplo as propostas na área do mercado interno que vão provocar «o crescimento que é necessário imediatamente para sair desta recessão».

Para a responsável sindical, o que a Europa precisa, por exemplo, é «muito claramente de ação do Banco Central Europeu», dos eurobonds, as obrigações europeias, «o que reduziria certamente as taxas de juro para Portugal, Grécia e Itália, e estimularia o crescimento», e do imposto sobre as transações financeiras, que só agora começou a ser discutido.

Para Ségol é um erro pensar que «o crescimento e o emprego vêm das reformas estruturais» e que se criarão postos de trabalho ao flexibilizar o mercado de trabalho, o que, a seu ver, significa sobretudo facilitar o despedimento.



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