A Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) de Vila Real está ao serviço da comunidade há 20 anos com a missão de garantir um socorro mais rápido e eficaz às vítimas de doença súbita ou de acidente.
Com este veículo de intervenção pré-hospitalar, a equipa de um médico e um enfermeiro vai diretamente ao local onde se encontra o doente, quer seja na cidade de Vila Real ou na aldeia mais distante e isolada.
O 20.º aniversário da VMER, com base no Hospital de Vila Real, da Unidade Local de Saúde de Trás-os-Montes e Alto Douro (ULSTMAD), celebra-se no sábado, mas foram preparadas 20 iniciativas que decorrerão ao longo de um ano.
A propósito das duas décadas deste serviço pré-hospitalar na região, a agência Lusa foi conhecer o trabalho das equipas da VMER de Vila Real, que pertence ao Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM)
A primeira chamada caiu às 14:45. A vítima de 8 anos sentiu-se mal numa escola em Lamego e foi combinado um ponto de encontro com a equipa dos bombeiros a meio do caminho, na Régua.
“Era uma criança, o que nos deixa sempre mais preocupados, mas fomos encontrar a criança num estado bem melhor do que aquele que tinha sido relatado, não estava com dor no peito, não estava com taquicardia assinalável, não encontrámos outras disfunções e trouxemos a criança para observação na urgência”, afirmou Agostinho Ladeira, médico de 43 anos.
Foi feito o despiste a um conjunto de parâmetros preestabelecidos e que ajudam a avaliar o doente e realizado um eletrocardiograma que não revelou valores preocupantes.
Em casos mais graves, um dos elementos da equipa pode acompanhar a vítima na ambulância dos bombeiros na viagem para uma unidade hospitalar. Neste caso não foi necessário.
A VMER de Vila Real teve, entre janeiro e outubro, uma média diária de saídas de 4,3.
A tipologia de ocorrências vai da alteração de estado de consciência (17%), pedido de apoio diferenciado (17%), dor torácica (15%) e paragem cardiorrespiratória (15%).
Neste período, a viatura teve uma operacionalidade de 97,3%.
A área de atuação é vasta e pode ir até Vidago, Mondim de Basto, São João da Pesqueira ou Carrazeda de Ansiães.
Agostinho Ladeira trabalha nos cuidados intensivos, juntou-se este ano à equipa da VMER e explicou que a emergência na rua “é mais difícil”.
No hospital o ambiente é mais previsível, controlado, todos os meios estão disponíveis e há o apoio de outros médicos e enfermeiros.
Na rua, a equipa apenas dispõe do equipamento que vai nas mochilas e de um monitor desfibrilador, e as situações que podem ocorrer “são muito diversas”, desde um cenário sem gravidade a um caso de risco de vida.
A VMER é acionada para o terreno pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) de acordo com a gravidade dos casos. Em locais mais distantes pode ser ativado o helicóptero do INEM.
Susana Ribeiro, 40 anos, é enfermeira na urgência há 18 anos e há nove que integra a equipa da VMER.
“É uma adrenalina muito grande. Recebemos a chamada, as informações que temos são muito poucas, depois é o querer chegar rápido, mas em condições de segurança, quando nos dizem que é uma criança aumenta o grau de ansiedade. Nós vamos no carro sempre a pensar o que poderá ser e a delinear estratégias (…) Mas é muito reconfortante quando podemos ajudar e as coisas correm bem”, afirmou a enfermeira.
As histórias vividas por estes profissionais são muitas, umas mais tristes, outras caricatas. Os casos que envolvem crianças são, segundo Susana e Agostinho, os mais difíceis, mas depois há também situações como o alerta que uma mulher dizia “a minha menina está morta” e que afinal era uma cadela com o nome de menina.
Criar “uma capa” ajuda estes médicos e enfermeiros a lidar com os casos difíceis, dramáticos ou em que não se consegue salvar uma vida.
“Mas não troco isto por nada. Acho que consigo fazer um bocadinho da diferença. Quando temos uma saída conseguimos efetivamente ajudar”, frisou Susana Ribeiro.
No âmbito do programa comemorativo “20 anos, 20 eventos” foi preparada uma exposição com 60 fotografias das equipas e da VMER em diferentes cenários de atuação, que é inaugurada no sábado, no hospital de Vila Real, mas vai percorrer várias instituições ao longo de um ano, inclusive em escolas.
Com as escolas do secundário foi realizado um ‘mass training’ com o objetivo de alertar os jovens para o suporte básico de vida (30 compressões e duas insuflações).
Nos lares, vão ser dadas “dicas” que podem fazer a diferença até à chegada do socorro, como fazer uma papa de água com açúcar em caso de hipoglicemia, o suporte básico de vida, deitar a vítima de lado ou fazer pressão sobre uma ferida para estancar uma hemorragia.
“Não somos só uns aceleras que andam por aí, estamos aqui para ajudar a população e fazer a diferença”, realçou Susana Ribeiro.