A Feira de São Pedro, em Vila Real, conta este ano com novas oleiras que aliam peças contemporâneas ao tradicional barro negro de Bisalhães e querem contribuir para a manutenção desta arte classificada pela UNESCO.
A feira de São Pedro, que inclui a tradicional Feira dos Pucarinhos, com a venda do barro preto de Bisalhães, decorre entre hoje e sábado no centro da cidade de Vila Real.
As barracas de venda de roupa, principalmente de cuecas, malas, brinquedos ou farturas dominam o certame, mas no largo da Capela Nova estão montados ‘stands’ de barro negro, cujo processo de fabrico foi inscrito em 2016 na lista do Património Cultural Imaterial que necessita de salvaguarda urgente da UNESCO.
Sara Marinho, 33 anos, concluiu em 2023 um curso de formação profissional na área da olaria e está hoje a participar pela primeira vez como oleira no certame.
“Porque não aliar as peças modernas ou contemporâneas ao barro de Bisalhães”, questionou.
E foi isso que fez. Às tradicionais peças utilitárias para a cozinha, como os tachos e alguidares, juntou, por exemplo, uma fruteira com a cabeça do gato egípcio, a máscara da índia amazónica, bijutaria, imanes para o frigorífico, jarras, velas e suportes para queimar incenso.
A oleira disse que as suas peças são diferentes, mas ressalvou que são feitas da forma tradicional. No seu estúdio, montado em casa, tem uma roda elétrica e uma roda tradicional de madeira para moldar o barro que a própria amassa e pica.
Depois de criadas as peças são cozidas em velhinhos fornos abertos na terra, onde são queimadas giestas, musgo, carquejas e abafadas depois com terra escura, a mesma que lhe vai dar a cor negra.
E foi precisamente o processo de fabrico do barro negro de Bisalhães que foi inscrito na lista UNESCO.
Depois do curso profissional, Sara Marinho trabalha na olaria a tempo inteiro, mas disse que tem “sido difícil” até porque, devido ao inverno e primavera chuvosos, só recentemente foi possível cozer as peças nos tradicionais fornos.
A oleira garante que quer ajudar a manter viva a tradição do barro negro, mas referiu que não gosta de fazer peças em série e que gosta de puxar pela criatividade.
Tradicionalmente a olaria era um ofício protagonizado por homens, mas muito do trabalho era feito pelas suas mulheres.
Lídia Pires, 89 anos, é viúva de oleiro e está agora no São Pedro a ajudar a vender as peças criadas pelo seu genro, mas que ainda ajuda a decorar.
“Esta sempre foi a nossa arte”, afirmou, contando que, apesar de ser o marido a “fazer a louça”, era ela que picava e amassava o barro, que decorava as peças e ia ao monte buscar lenha para os fornos.
Como as mulheres usavam saia, frisou, não se podiam sentar à voltar da roda.
Lídia Pires lembrou que antigamente toda a rua estava cheia de barro negro e sublinhou que, em Bisalhães, esta era a arte de toda a povoação.
Foto: Bruno Taveira