Sara, Tânia e António são novos oleiros, em Vila Real, que querem fazer da arte uma profissão e contribuir para a salvaguarda do barro negro de Bisalhães, classificado pela UNESCO há sete anos.
Celebra-se hoje o sétimo aniversário da inscrição do barro negro de Bisalhães na lista do Património Cultural Imaterial que necessita de salvaguarda urgente da UNESCO e, para assinalar a data, a Câmara de Vila Real organizou um encontro que reuniu oleiros mais velhos com a nova geração.
Sara Marinho, 32 anos, terminou o curso de formação profissional na área da olaria e afirmou que quer seguir esta arte como profissão.
“Quero explorar novas formas, novos designs, mas tudo cozido de forma tradicional como o barro de Bisalhães. Ou seja, quero fazer peças modernas, mas em barro de Bisalhães”, salientou, explicando que quer criar peças decorativas e que também aprendeu a fazer as tradicionais peças com os oleiros que mantêm a arte viva naquela aldeia do concelho de Vila Real.
Num pequeno 'atelier' montado em casa tem uma roda de madeira onde está a fazer alguns trabalhos e a treinar, enquanto espera por uma oportunidade para cozer as peças nos antigos fornos.
Foi precisamente o processo de fabrico do barro negro de Bisalhães que foi inscrito na lista da UNESCO. As peças são cozidas em velhinhos fornos abertos na terra, onde são queimadas giestas, musgo, carquejas e abafadas depois com terra escura, a mesma que lhe vai dar a cor negra.
Sara Marinho tirou o curso de Engenharia da Reabilitação, mas o apelo da arte foi mais forte e o curso promovido pelo município, em conjunto com a Junta de Mondrões e o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), “foi a cereja no topo do bolo”.
Licenciada em Design, Tânia Ferreira, 35 anos, também fez o curso profissional de 13 meses e descobriu que esta é uma área de que gosta.
“O objetivo é criar peças contemporâneas, mas com a matéria-prima da região e o mesmo método de cozedura para conferir o aspeto preto e mais metalizado com que algumas peças ficam”, frisou.
Tânia Ferreira referiu que quer contribuir para que a “arte não desapareça”.
António Lagoa, 59 anos, disse que já está a trabalhar, aliando várias técnicas e criando novas peças com o barro negro.
“Interessa-me explorar aquilo que não se faz”, salientou, lamentando o tempo de espera pela cozedura nos fornos antigos promovida pelos antigos oleiros.
A vereadora da Cultura da Câmara de Vila Real, Mara Minhava, disse que dos nove formandos que começaram há mais de um ano o curso, sete concluíram e são, efetivamente, oleiros.
“E fico muito feliz de saber que alguns destes ex-formandos continuam a ir a Bisalhães ter com aqueles que foram os seus mestres, nomeadamente com o senhor Querubim Rocha, com quem alguns estagiaram, para aperfeiçoar”, sublinhou.
A vereadora destacou a vontade “intrínseca” em aprender a arte e o conhecimento de outras áreas que os “novos” trazem para esta arte.
“Se não houver este toque de modernidade nas peças será muito difícil tornar atrativo este tipo de cerâmica e sendo jovens, com criatividade, desde que não desvirtuem a parte da cozedura, conseguimos que coexista a tradição com este ‘input’ de modernidade e criatividade que vai ser muito atrativo para o turista, e é isso que vai fazer com que esta arte não se perca”, salientou.
Mara Minhava disse acreditar que a nova geração vai conseguir fazer desta olaria uma profissão e conseguir sustentar-se só trabalhando o barro, e adiantou que o município quer arranjar uma forma de os ajudar.
A idade avançada dos antigos artesãos foi sempre apontada como uma preocupação para a continuidade da arte.
Em Bisalhães, a Junta de Mondrões adquiriu uma casa e um terreno onde quer construir um museu dedicado à olaria preta.
O objetivo, segundo disse o presidente da junta, Félix Touças, é preservar a história e as peças tradicionais, recuperar antigos fornos comunitários, criar também ‘ateliers’ para quem queira trabalhar na olaria e dinamizar o barro preto.
“A chancela UNESCO veio trazer mais notoriedade, atrair turistas e veio dar um sentimento de alegria e satisfação aos oleiros, que sentiam que esta era uma profissão um pouco marginalizada e agora veem com uma arte que não está ao alcance de todos”, sublinhou Mara Minhava.