Ainda o almoço de sexta-feira não cheirava a pronto já Júlia Ferreira preparava o fermento para dez quilos de massa. Durante a tarde cozeria pão para uma semana. Uma dúzia deles. Grandes e pequenos. Para gasto da casa e também para oferecer a alguns familiares. \"Poupa-se muito dinheiro\", confidenciava. A opção deveu-se ao preço do pão, \"cada vez mais alto\". Não foi a única.

Na sua casa na aldeia de Freixiel, Vila Flor, instalou um forno de barro para fazer assados, mas nos últimos meses tem sido mais utilizado para cozer pão. A poucos quilómetros dali, em Samões, Anunciação Santos, coze à segunda-feira. O forno é de ferro, assente em três patas do mesmo material, e dorme ao relento. \"Mas faz pão que é uma delícia\", atesta. Não se arrepende, portanto, dos 420 euros que deu por ele.

Manuel Lisboa, dono dos Móveis Lindolar, em Mirandela, declara que \"nos últimos tempos têm-se vendido muitos fornos desses\". Aliás, nas aldeias da região \"quase toda a gente tem um\". A forte procura, ouviu dizer aos clientes, deve-se ao \"encarecimento do pão\" nas padarias, que, porém, ainda não têm grandes razões de queixa.

\"A qualidade é que não se compara\", atira Júlia Ferreira enquanto trata da massa para umas bÎlas de azeite e ovos. Contudo, é no preço que a diferença se nota mais. \"Fazer 12 pães de pouco mais de um quilo em casa fica-me em 3,60 euros, fora o trabalho, mas também temos de queimar calorias (risos)\".

Anunciação está tão satisfeita com o pão que faz em casa que \"só em situação de muita necessidade é que o compra fora\". Gosta dele \"pequenino\", 12 a 13 unidades por semana. Faz para casa, onde vivem três pessoas, mas também para familiares.

Por cada fornada amassa seis quilos de farinha que compra em Espanha, onde tem de ir uma vez por mês por causa da reforma do marido. O saco de dez quilos fica-lhe a cinco euros e meio, o que, garante, \"compensa muito\". \"E olhe que cá na aldeia já há muita gente, mas muita mesmo, a cozer em casa\".

Ambas concordam que estão a \"reviver tempos antigos\", pois nas aldeias transmontanas havia sempre várias casas que coziam o pão para consumo próprio e também para vender aos vizinhos.



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