Um grupo internacional de especialistas em história alertou para vestígios de arte rupestre em "risco de desaparecer", em Vila Real, enquanto a câmara garantiu hoje a manutenção e salvaguarda do local no âmbito de obras em curso.

O presidente do International History Students and Historians Group (IHSHG), João Viegas, remeteu cartas ao município, partidos políticos e ao Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (ICOMOS), a dar conta do descontentamento pelo “estado de total negligência em que se encontra a arte rupestre” localizada na rua Marechal Teixeira Rebelo, em Vila Real.

Trata-se, segundo o grupo, que conta com aproximadamente 1.400 membros, de um “afloramento granítico que contém várias gravuras rupestres, em pleno centro da cidade, que se estima ser "anterior a data de fundação do primeiro núcleo urbano”.

O IHSHG considera que o afloramento granítico não “foi devidamente estudado ou investigado com profundidade”, apelando a que “o possa vir a ser”, e citou o padre João Parente, que se dedicou ao estudo da história da região e descreveu “um santuário ofiolático constituído por uma serpentiforme”.

O vereador da Câmara de Vila Real, Adriano Sousa, afirmou à agência Lusa que o município “fez questão” de que o projeto de reabilitação da rua Marechal Teixeira Rebelo, incluído no Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU), “não interferisse minimamente com aquele afloramento rochoso”, por saber que “há algumas referências a aspetos rupestres naquela zona, sem que, no entanto, nada esteja inventariado no património arqueológico”.

“Tendo em conta essa preocupação, a câmara fez questão também de alertar o adjudicatário para que tivesse cuidado para que, quando andasse naquela zona, não houvesse qualquer interferência com o afloramento rochoso”, salientou.

Nas cartas remetidas aos órgãos de comunicação social, o IHSHG questionou se a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) “tem conhecimento do estado em que se encontra o monumento”, quais as “medidas que virão a ser tomadas por parte da câmara para garantir a preservação dos vestígios arqueológicos” e “para quando está prevista a ação da autarquia”.

“Estamos sempre prontos para fazer parte da solução (…) A Câmara Municipal está disponível e recetiva a sugestões no sentido de se valorizar aquilo que os técnicos da área, nomeadamente da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), sugerirem”, sublinhou Adriano Sousa.

O autarca lembrou que se realizaram obras naquelas imediações há uns anos, nomeadamente com instalação de um posto de transformação, e referiu que "não foram, à data, contestadas".

Na carta, o grupo internacional de historiadores faz ainda referência à discussão pública, que terminou a 09 de fevereiro, sobre a “Operação de Reabilitação Urbana do Centro Histórico da Cidade de Vila Real”.

“Pouco nos apraz registar que a Câmara de Vila Real não tomou, até à data, qualquer género de atitude de salvaguarda que procurasse proteger um afloramento granítico de tão valiosa importância patrimonial para o estudo da cidade de Vila Real que se encontra em grave risco de desaparecer”, referiu a organização internacional.

Adriano Sousa esclareceu que esta operação “apenas se referia à envolvente do mercado e à zona da estação”, não abrangendo a área do arruamento em causa.

O vereador realçou a preocupação da autarquia “pela defesa do património”, dando como exemplo o investimento na reabilitação da central hidroelétrica do Biel e as "duas fontes que há décadas estavam invisíveis", na rua Marechal Teixeira Rebelo, as quais vão ser recuperadas.



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