Apesar de já terem passado 45 anos, Valdemiro do Anjos, de Vila Nova de Monforte, tem o dia 13 de Janeiro de 1965 gravado na memória. Foi o dia em que iniciou a longa e atribulada viagem para França.

O “passador” dava pela alcunha da “Vasalec” e cobrou-lhe 6 mil escudos, dinheiro que só seria pago por um tio que ficou na aldeia quando Valdemiro mandasse uma carta a dizer que chegara bem e já trabalhava. Até à fronteira com França a viagem decorreu sem problemas. O pior veio depois. Primeiro, ele e os que o acompanhavam tiveram de ficar escondidos num curral de ovelhas cheio de ouriços e, depois, quando estavam novamente a caminho, foram surpreendidos pela guarda espanhola. “Queda aí!”, ordenou a guarda. “Salve-se quem puder!”, gritaram os passadores. E foi o que fizeram Valdemiro e os restantes portugueses. O grupo espalhou-se e o reencontro deu-se apenas já do lado francês. Quatro pessoas não apareceram e nunca se soube o que lhes sucedeu.

A emigração vista pela imprensa francesa

A história de Valdemiro é apenas uma das muitas que fazem parte do livro “ Chaves-Memórias da Emigração”, uma edição da Associação dos Portugueses no Estrangeiro, com o patrocínio da autarquia flaviense. A obra foi apresentada na sexta-feira da semana passada, no âmbito da IV Convenção Mundial da Comunidades Portuguesas, que decorreu em Chaves. Antes da apresentação do livro foi também inaugurada a exposição “30 anos de História da Emigração Portuguesa em França”, uma mostra composta por vários painéis de recortes da imprensa francesa, onde o tema é tratado. “Um em cada dez portugueses vive em França” lê-se, por exemplo, num dos painéis que mostra uma notícia do jornal Le Monde de Dezembro de 1976. Outros artigos expostos mostram fotografias dos chamados Vidonville, autênticos bairros de lata (bidons), onde viviam muitos dos emigrantes portugueses.

O dia de sábado foi reservado para a discussão de temas ligados à emigração. Durante a tarde, um deles foi precisamente dedicado à preservação da memória da emigração. A este propósito, foi defendida a criação de um estrutura para registar a memória de emigração e a criação em Portugal de uma “Cidade da Memória” ou “Casa da memória”, como existe em países como a França, Israel ou os Estados Unidos. “O Governo tem de pôr a trabalhar nesta matéria um conjunto de pessoas motivadas. É uma questão de vontade política e de urgência, sob pena de se deixar morrer os actores desta epopeia que foi a emigração”, defendeu o vice-presidente da Associação de Portugueses no Estrangeiro (APE), que, juntamente com a Câmara Municipal de Chaves, organizou o evento. A participação de emigrantes na convenção foi, no entanto, muito diminuta. Durante os debates temáticos só estiveram praticamente presentes os oradores convidados. José Machado desvalorizou, admitindo que poderia ter havido alguma falha na “divulgação”. “Se tivéssemos aqui mais 20 ou 30 pessoas ficaríamos satisfeitos, mas isso não nos preocupa. A ideia é reunir pequenos grupos para discutir questões técnicas e produzir um documento de trabalho que depois será levado à tutela ”, argumentou o vice-presidente da APE. A questão da participação política dos portugueses em Portugal e nos países de acolhimento foi outro dos temas. A este propósito, Carlos Luís, ex-deputado pela emigração e actual secretário-Geral do INATEL, disse que há ainda um “longo caminho a percorrer” e defendeu mesmo que o recenseamento obrigatório.



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