Integrada nas IV Jornadas Culturais Açorianas da Casa dos Açores da Nova Inglaterra, realizou-se no passado domingo, no Restaurante Riviera, em Bristol, R.I. uma homenagem ao Professor Doutor José Enes, antigo professor do Seminário de Angra e fundador da Universidade dos Açores.
Alguns padres estiveram presentes, como o Rev. Luís Diogo, seu colega de curso, Dr. Antonino Tavares, Luís Cardoso, Manuel Garcia e João Cipriano Martins. Ainda alguns ex-seminaristas, antigos alunos do mestre.
Natural das Lajes do Pico, o Dr. José Enes nasceu a 18 de Agosto de 1924, tendo ingressado no Seminário de Angra em 1936 e na Universidade Gregoriana em Roma, em 1945, voltando depois em 1964. Fez um Doutoramento em Filosofia em 1968, com distinção máxima (Summa Cum Laude e Medalha de Ouro). É licenciado em Teologia. Recebeu um Doutoramento “Honoris Causa” em 1978 da Universidade de Rhode Island e fez a Agregação em Ontologia na Universidade dos Açores em 1983.
Para além de Professor do Seminário de Angra, foi Professor, Presidente do Conselho Directivo e Vice-Reitor da Universidade Católica; Professor da Universidade de Luanda; Professor do Instituto Politécnico da Covilhã; Reitor da Universidade dos Açores; Presidente do Conselho Municipal da Câmara de Ponta Delgada; Professor Catedrático da Universidade Aberta, tendo sido seu Vice-Reitor. Exerceu ainda muitos outros cargos.
O Professsor fundou a página cultural do diário A União intitulada “O Pensamento;”o Instituto Açoriano de Cultura; o Movimento Regional “Semanas de Estudos nos Açores.” Foi designado em 1964 para presidir à primeira Comissão Promotora do Desenvolvimento Regional dos Açores.
Por outro lado, é muito vasta a lista das suas publicações, incluindo um livro de poemas.
É membro de várias associações açorianas: É membro-fundador da Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa. É membro do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira. É Sócio-Honorário da Sociedade Brasileira de Filósofos Católicos. É membro honorário da Aula Castelão de Filosofia da Galiza. É membro do Prince Henry Society da Nova Inglaterra e é membro ainda do Clube Micaelense.
José Enes foi condecorado pelo Corpo Nacional de Escuteiros, com a Medalha de Ouro e Gratidão. Foi agraciado em 1964, pelo Chefe de Estado Português, com o “Oficialato da Ordem do Infante,” por serviços prestados a Bem da Nação no Arquipélago dos Açores. Em 1983 foi agraciado pelo Presidente da República com o Grau de “Grande Oficial da Ordem da Instrução Pública.” Em 1992 o Município de Ponta Delgada concedeu-lhe o Diploma de Cidadão Honorário de Ponta Delgada. Em 1999 a Câmara Municipal das Lajes do Pico atribuiu-lhe o Título de Cidadão Honorário. Recebeu ainda a Medalha de Honra da Universidade Aberta, em 1994.
Foi este o homem que a Casa dos Açores da Nova Inglaterra homenageou no passado domingo, com toda a justiça, porque se trata de facto de um grande homem, um grande açoriano e um grande espírito da actualidade.
João Carlos Tavares, o Presidente da Casa dos Açores, abriu a sessão, anunciando que esta homenagem estava integrada nas Quartas Jornadas Culturais Açorianas.
O Mestre de Cerimónias e orador principal foi o Dr. Onésimo Almeida, antigo aluno do homenageado e seu amigo pessoal, que preferiu não fazer discurso, uma vez que a biografia do “Mestre” se encontrava à disposição dos presentes no Boletim da Casa dos Açores, mas chamou-o de “educador,” de “cérebro” das Semanas de Estudo de onde saiu o conceito da açorianidade, afirmando que entre os presentes e em muitos ausentes, estavam pessoas que foram tocadas pelo Dr. Enes.
Algumas mensagens foram lidas: Do Presidente da Câmara Municipal das Lajes do Pico, na qual referia que o nome de José Enes estava entre os maiores e os melhores no mundo das letras.
A Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, também enviou uma mensagem, na qual dá a conhecer uma outra homenagem a prestar ao Dr. José Enes — uma Praça numa nova urbanização em Ponta Delgada, com o seu nome.
O Presidente da Câmara Municipal do Nordeste, enviou um abraço do concelho, chamando ao Dr. Enes “um dos açorianos de maior relevo de sempre.”
Por seu turno, Pedro Bicudo, jornalista da RTPi, que esteve presente, disse que cresceu com o nome do Dr. Enes (colega do pai) como referência. Que, como membro da Comissão de Estudantes da Universidade dos Açores, criticou o reitor, mas que sempre admirou o homem e o professor, tendo mais tarde modificado a sua opinião acerca do reitor, terminando dizendo que “Os Açores muito devem a este Mestre.”
Manuel Estrela, antigo aluno do Dr. Enes, recordou factos passados entre os dois e leu uma mensagem de Heitor Sousa, outro antigo aluno, na qual afirmava: “Não posso esquecer a sua influência na minha vida...” Noutro passo, Sousa escreveu: “Alto (como a sua ilha) na estatura, mas essencialmente no espírito, o Dr. José Enes merece esta homenagem.”
Presentes estiveram ainda algumas outras associações, caso, entre outras do Coral Herança Portuguesa, Amigos da Terceira, Convívio Picoense, Irmandade do Espírito Santo da ilha do Pico, Luso-American Education Foundation.
O Dr. Leonel Teixeira representou o Consulado de Portugal em Rhode Island, e o picoense, deputado do estado de Massachusetts, António Cabral, também se quis associar à homenagem.
Na sua apresentação, o Dr. José Enes recordou aspectos da sua vida, nomeadamente o esforço que foi preciso fazer para se conseguir um diálogo com a intelectualidade açoriana, necessário para uma organização que tentasse resolver o problema dos Açores, nomeadamente no campo da formação profissional.
Daí surgiram as Semanas de Estudos e mais tarde, depois do 25 de Abril, a Universidade.
“Tive a ideia, atendendo ao ambiente em Portugal e à nova situação de escrever ao General Altino Magalhães, no sentido de se criar uma universidade nos Açores, o que antes tinha sido impossível, pois julguei ser aquela a hora da universidade, e recebi com surpresa um telegrama em resposta, a dizer: ‘Siga e tudo o mais se resolverá.’ Cheguei a Ponta Delgada a 29 de Setembro de 1975, e aproveitamos o que havia sido feito anteriormente. Formaram-se comissões. Tudo correu com firmeza e ritmo, e em Janeiro de 1976 foi criada a Universidade dos Açores,” disse o Professor.
Recordando, o Dr. Enes continuou: “O que fiz nunca foi sozinho...” Mas volto hoje a estar preocupado com os Açores... O arquipélago perde população. Neste momento por mais que façam não há forma de avançar... Vejo na ‘Lusolândia’ uma comunidade activa, inteligente e poderosa...”
Talvez seja esta a solução para o problema açoriano...
E o “Mestre” finalizou: “Já nada posso fazer...”
No final, o Dr. José Enes que esteve acompanhado da esposa, Dra. Maria Fernanda Enes, foi muito cumprimentado.
A Casa dos Açores da Nova Inglaterra que já homenageou anteriormente Pedro da Silveira e o Dr. Eduino Jesus, anunciou algumas das actividades futuras, nomeadamente uma homenagem aos Fundadores, a realizar no dia 30 do corrente, no salão da Irmandade do Espírito Santo da No. Phillips Street, em East Providence.
O Presidente da Assembleia Geral da Casa dos Açores, João Pacheco falou sobre o Boletim, e que já havia uma lista para os corpos sociais a eleger no dia 23 de Novembro corrente.
Depois actuaram Dionísio Costa, José Francisco Costa e Raúl Rodrigues, apresentando músicas que encantaram os presentes.
E assim terminou esta homenagem a um dos mais ilustres açorianos de sempre, Professor Doutor José Enes, que merece ser também Sócio-Honorário da Casa dos Açores da Nova Inglaterra.