Um século e meio depois da sua fundação, o Hospital Português é, não só o melhor hospital do estado da Bahia, como ainda um dos melhores do Brasil.
Um motivo de orgulho para portugueses e brasileiros que continua a reger-se pelos mesmos ideais que levaram à sua fundação: “prestar assitência a quem necessitar”.
Implantado na avenida Princesa Isabel, no centro da cidade de São Salvador (capital do estado da Bahia)
o actual hospital é o culminar de um sonho da comunidade portuguesa da Bahia, iniciado no longínquo ano de 1856. Um grupo de cidadãos portugueses bem sucedidos decidiu que era necessário fundar uma associação para apoiar os compatriotas que passavam por dificuldades. A proposta foi então formalizada no dia 16 de Setembro de 1856, data do aniversário do rei D. Pedro V - daí
o nome da associação, como uma homenagem ao rei. Meses depois, a 1 de Janeiro de 1857, nascia a Sociedade Portuguesa Dezasseis de Setembro.
Dois anos depois, a jovem sociedade juntou-se à Sociedade Portuguesa de Beneficência, um associação gerida segundo os mesmos ideais e objectivos da Sociedade Portuguesa Dezasseis de Setembro. Como a junção as tornava mais fortes e actuantes, a fusão aconteceu em 1859, surgindo então a Sociedade Portuguesa de Beneficência Dezasseis de Setembro.
“Real”
Uma associação que em 1863 foi agraciada com um título honorífico... Foi a 27 de Maio de 1863 que, através de um alvará, o rei de Portugal e protector da entidade, lhe conferiu o título de “Real”, passando então a denominar-se Real Sociedade Portuguesa de Beneficência Dezasseis de Setembro.
Depois da associação, o hospital
Entretanto, os membros da associação cedo perceberam a necessidade de ampliar o atendimento aos compatriotas portugueses, e, em 1864 começou a tomar forma o projecto de construção de um hospital. Assim, a 16 de Setembro de 1866 (novamente o dia 16 a marcar a instituição) a Real Sociedade inaugurava o Hospital Português. A primeira sede localizava-se no Alto do Bonfim, e, com a inauguração do hospital, a Real Associação passava também a prestar assistência aos brasileiros carentes. Em 1927, a directoria passou a admitir sócios de qualquer nacionalidade, assim como esposas e filhos de portugueses, motivo pelo qual a Real Sociedade foi reconhecida como de Utilidade Pública, a 24 de Maio de 1929. Nesse mesmo ano, a Sociedade decidiu transferir o Hospital para um ponto mais central da cidade. Com esse objectivo foi adquirido no ano seguinte o palacete do comerciante brasileiro José de Sá, localizado na Avenida Princesa Isabel. Em 1931, era inaugurado um Hospital Português novo, mais moderno e com capacidade para prestar uma melhor assistência à população de Salvador.
Instituição filantrópica de renome, o Hospital Português de Salvador prima pela modernidade, sendo hoje uma referência no atendimento médico-hospitalar nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Com um corpo clínico que conta actualmente com 3.700 mil profissionais (1700 que integram o quadro de funcionários e dois mil cadastrados), o Hospital actua numa grande variedade de áreas de atendimento hospitalar. Um centro cirúrgico composto por 13 salas com capacidade para realizar cirurgias complexas, unidades abertas de internamento com 192 leitos, unidades fechadas de tratamento intensivo, e as urgências, com um atendimento 24 horas por dia aos pacientes clínicos e cirúrgicos, são algumas as áreas da estrutura física do hospital. A estrutura do Hospital inclui ainda laboratórios de análises clínicas e patológicas, além de unidades de transplante.
Pioneiro no Nordeste
A área de transplantes é para a administração do Hospital um motivo de orgulho. Há 21 anos atrás uma equipa médica realizava o primeiro transplante renal, fazendo do Hospital Português de Salvador o pioneiro nesse tipo de intervenção em todo o Nordeste do Brasil, como referiu ao Mundo Português, Carlos Manuel Ferreira, assessor da direcção. Vinte anos depois, em 2001, o Hospital foi autorizado pelo Serviço Nacional de Transplantes a realizar transplantes de fígado e de medula óssea: a Bahia passava a ser o segundo estado das regiões Norte e Nordeste do país a realizar esse tipo de cirurgia, até então executada apenas em Pernambuco.
Foi também em 2001 que aquela instituição viu inaugurado “o projecto mais arrojado”, nas palavras do assessor da direcção: o Centro Médico, a mais recente estrutura do Hospital. “É um novo prédio de quatro andares com 48 consultórios para várias especialidades médicas, e seis andares de estacionamento, que teve como objectivo trazer o profissional mais próximo do paciente”, revelou Carlos Ferreira. O edifício, contíguo ao Hospital, inclui ainda um auditório com capacidade para 200 lugares e preparado para acolher palestras e encontros nacionais e internacionais de cunho científico.
Além dos 1500 sócios e seus familiares, também recebem consultas e tratamento, os pacientes associados aos cerca de 50 planos de saúde privados com o qual o Hospital Português assinou um convênio médico. A esses juntam-se os pacientes enviados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) - o sistema de saúde público. De acordo com Carlos Ferreira, diariamente, entre 70 e 100 pessoas recebem tratamento nas Urgências e cerca de 300 são tratadas no atendimento ambulatorial. O hospital realiza ainda cerca de mil cirurgias por mês.
Novos projectos
O cumprimento dos objectivos tem levado a direcção do Hospital Português a preocupar-se com um constante processo de modernização. Para já, tem projectada a construção de um Centro de Treinamento de Recursos Humanos e de um novo edifício garagem, que já teve o seu projecto aprovado pelas entidades oficiais. Para o Centro de Treinamento foi já destinada uma propriedade, estando neste momento a direcção em negociações para a aquisição de uma outra área. A construção do espaço tem início previsto para daqui a dois anos.
Um trabalho que a direcção realiza de forma voluntária. Sendo a Real Sociedade Portuguesa de Beneficência uma obra filantrópica, os responsáveis pela direcção do Hospital Português e da Quinta Portuguesa (ver matéria na página 4) não recebem salários nem nenhuma outra forma de remuneração.
A recompensa advém da consciência do dever cumprido…