Os idosos do Lar Nossa Senhora das Dores estão a regressar faseadamente ao edifício, localizado no centro de Vila Real, que foi evacuado, descontaminado e ajudou a chamar a atenção para o impacto da covid-19 nestas instituições.
O primeiro caso de covid-19 foi detetado no dia 22 de março nesta Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS). Foi um doente oncológico que foi também o primeiro a regressar na segunda-feira ao lar, depois de recuperado do novo coronavírus.
“O regresso do primeiro, um doente fragilizado, que apanhou covid-19 e está curado, é um sinal de grande esperança. É um sinal de que vale a pena combater e travar esta batalha”, afirmou à agência Lusa o presidente da Câmara de Vila Real, Rui Santos.
Rui Santos lamenta não ter vindo ainda nenhum ventilador para o Hospital de Vila Real, para além dos 12 que já tinha inicialmente, em detrimento de outras regiões do país, disse o autarca em direto ao canal de televisão TVI.
Nesta instituição foram infetados cerca de 70 idosos e ainda vários funcionários. Entre 27 e 28 de março procedeu-se a uma mega operação de evacuação do lar, tendo sido retirados, só nessa noite, 53 utentes, que foram encaminhados para o Trofa Saúde Hospital, em Vila Real.
O Exército procedeu à descontaminação do lar e foi preciso ultrapassar o problema de falta de recursos humanos, até porque muitos funcionários positivos foram para isolamento e meteram baixa.
Depois de reunidas todas as condições, os primeiros quatro utentes regressaram na segunda-feira ao lar e hoje são transferidos mais nove, do grupo que está no hospital privado e que, depois de terem contraído a doença, já testaram negativo para a covid-19.
O autarca Rui Santos defendeu que “só devem regressar os idosos que forem testando negativo” e salientou ter “a esperança” de que “uma parte importante possa ser transferida ainda durante esta semana”.
O presidente do conselho de administração do lar, Eugénio Varejão, já disse à Lusa que as equipas de colaboradores, entretanto constituídas, vão funcionar ‘em espelho’, ou seja em turnos rotativos de 15 em 15 dias, e que no edifício estão a ser “organizados percursos” para garantir o afastamento e a segurança dos residentes.
Eugénio Varejão referiu ainda que aos poucos o lar se prepara para uma “nova realidade” e apontou que “nada volta a ser aquilo que era”.
Rui Santos acredita que o Lar Nossa Senhora das Dores ajudou a chamar atenção do país para o problema que se vive nestas instituições.
“Para mim isso é absolutamente claro. E a forma que encontramos para resolver o problema foi, de certa maneira, pioneira e julgo que exemplar no tratamento que esta questão devia ter em todos os lares portugueses”, afirmou.
Ou seja, explicou, “tendo consciência de que há infetados utentes, a maior parte idosos com patologia variadas e que necessitam de acompanhamento de enfermagem e médico e que tiveram um acrescento de covid-19, a melhor maneira de os tratar é em unidades de saúde”.
E foi isso que disse que “foi garantido” com a transferência dos residentes para o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), o hospital militar do Porto e o Trofa Saúde.
“Este é um modelo que devia vingar em todo o país”, defendeu.
A Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) e a União das Misericórdias Portuguesas (UMP) já se mostraram preocupados com “a grave situação” que se vive nos lares de idosos e de deficientes no contexto da pandemia.
Num comunicado conjunto, referiram que os “lares não são unidades de saúde e não têm como missão nem possuem condições, quer em termos de infraestruturas, quer em termos de recursos técnicos e humanos para darem acompanhamento na situação de doença aguda, não sendo, pois, compreensível nem aceitável que o Estado queira deixar os doentes com covid-19 nos lares, retirando os utentes que não estão infetados”.
Acrescentaram que “um doente com infeção covid-19 necessita de cuidados de saúde, com vigilância diária por médicos e enfermeiros”, e elencam um “suporte que os lares não podem dar sem o apoio complementar da saúde”.
Em Vila Real, a autarquia anunciou que vai distribuir cerca de 65 mil máscaras pelas IPSS do concelho, que foram adquiridas pelo município e doadas por beneméritos.
Rui Santos reclamou ainda a realização de testes aos funcionários e utentes, uma medida que está a ser implementada pelo Governo em outras zonas do país.
Neste processo estará envolvida a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e a medida deverá estender-se aos restantes municípios da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Douro.
Em municípios como Alijó, Murça, Peso da Régua ou Sabrosa os municípios pagaram a realização dos testes, contratando um laboratório privado para a sua concretização.