A igreja do Convento de São Francisco, em Bragança, está a ser leiloada por uma dívida de restauro do local de culto integrado num dos mais emblemáticos edifícios da cidade, classificado como Monumento de Interesse Público.
O conjunto do edifício medieval, datado do século XIII, situado junto ao castelo de Bragança, já foi convento, hospital militar, asilo e ali funciona atualmente o Arquivo Distrital de Bragança, na parte do convento, sob a administração direta do Estado.
A igreja e o adro permaneceram na posse da ordem terceira franciscana, uma organização de leigos, que responde pela dívida que levou à penhora e venda em leilão desta parte do imóvel, com um valor base de cerca de 137 mil euros.
O leilão online termina nesta terça-feira, com lances a rondarem os 76 mil euros, e sem ninguém conseguir explicar localmente como é que chegou a este ponto um espaço onde o Estado, através de organismos e programas ligados à Cultura, e a Câmara de Bragança chegaram a investir perto de 1,5 milhão de euros.
Estes investimentos começaram há quase 30 anos e, desde então, que tem havido dificuldades financeiras tornadas públicas e resolvidas com apoios oficiais, doações ou recursos a empréstimos, e controversa associada às obras, iniciada com o afastamento da arquitetura responsável por uma das primeiras fases do projeto.
Esta é a maior igreja de Bragança, onde em tempos se faziam os grandes eventos religiosos, mas não é pertença da diocese, como explicou à Lusa o pároco Octávio Sobrinho Alves, que exerce várias funções na diocese de Bragança-Miranda.
A Lusa tentou falar com o bispo José Cordeiro, sem sucesso, e foi o pároco, que já teve também a cargo a paróquia de Santa Maria, onde se localiza o edifício, que explicou que a ordem proprietária do espaço é composta por leigos e “tem a cúpula máxima no Porto”.
“Só posso culpar a ordem porque nem faz, nem desiste daquilo”, afirmou, lembrando que já há mais de 30 anos que o então bispo António Rafael tentou que esta igreja passasse para a diocese”.
O pároco estranha este processo porque, segundo disse, as igrejas não podem ser penhoradas, mas o processo foi avante com o argumento do empreiteiro que reclama a dívida de que já não tinha culto.
Sobrinho Alves garantiu à Lusa que ele próprio celebrou e continua a celebrar quando lhe pedem naquele espaço, nomeadamente em datas como as de São Francisco e Santa Luzia.
A única pessoa ligada à ordem com quem a Lusa conseguiu falar foi Augusta Miranda, que, desde 2010, tem a chave da igreja e é uma espécie de zeladora, com o contacto pessoal afixado na porta para quem quiser visitar.
Segundo disse à Lusa, quando chegou o processo da dívida já estava em andamento e que acabou por ficar “sozinha”, sem saber o que fazer, mesmo quando foi chamada como testemunho a tribunal.
“É triste estarmos nesta circunstância”, disse à Lusa o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, adiantando que “o município está a acompanhar o processo” e que “a disponibilidade vai até ao ponto de impedir que o imóvel passe para a mão de um privado”.
O autarca considerou que “não havia necessidade de chegar ao ponto de o imóvel chegar a leilão”.
“Se calhar, podia resolver-se de outra forma”, afirmou.
De acordo com as publicações que têm sido feitas sobre o monumento, a igreja de São Francisco apresenta uma das mais ricas coleções de arte sacra e os restauros que têm sido feitos nos últimos anos têm levado a novas descobertas de património.
Os frescos medievais na parte interior da abóbada e polvilhados pelo templo são também elementos distintivos deste imóvel integrado no convento que ficava na rota dos peregrinos de Santiago de Compostela, entre os mais notáveis, a Rainha Santa Isabel.
Foto: AP