Os principais sítios arqueológicos de Trás-os-Montes, região nordeste de Portugal, estão sendo danificados por «Indianas Jones à portuguesa» que perseguem supostos tesouros, denunciou nesta terça-feira à Lusa o arqueólogo Luís Pereira, pesquisador do Instituto de Gestão do PatrimÎnio ArquitetÎnico e Arqueológico (Igespar).

Segundo o arqueólogo, neste afã aventureiro, os \"caçadores de tesouros\", munidos de detectores de metais e pás, partem à procura de riqueza deixando para trás vestígios de destruição que começam a causar muitas preocupações.

O responsável pela extensão do Igespar em Trás-os-Montes garante já ter encontrado sinais desta prática em locais onde o único valor existente é o testemunho histórico.

Um dos pontos mais atacados nos últimos tempos é uma gruta conhecida como Lorga de Dine, no Parque Natural de Montesinho, um dos locais mais representativos do Período Calcolítico e da Idade do Bronze em Portugal. Segundo o arqueólogo, as salas e galerias da gruta têm sido vandalizadas à procura de tesouros.

A Câmara de Vinhais, onde se encontra a gruta, está desenvolvendo um projeto de valorização do local, mas sua proteção é complicada. Ali habita uma colÎnia de morcegos protegidos, que precisam sair à noite, o que não permite que o acesso ao local seja fechado.

O comando da polícia da região garantiu à Lusa não ter registrado nenhuma queixa sobre esta atividade de roubo arqueológico, embora seja do conhecimento geral que algumas pessoas procurem e encontrem objetos antigos. O problema, segundo admitem as autoridades, é que estes sítios e descobertas são encarados como \"propriedade de ninguém\".

Luís Pereira garante ter encontrado vários sítios escavados no trabalho de levantamento e inventário do patrimÎnio arqueológico de Trás-os-Montes, que coordena há dez anos.

Para ele, as peças que são encontradas por leigos nestes locais não têm qualquer valor econÎmico, mas fariam os arqueólogos \"dar pulos de alegria\" por conterem vestígios do modo de vida, dos hábitos e de outras características de sociedades antigas.

Na região, predominam os povoados abandonados ao longo da história pelas mutações demográficas.

Os estudos prévios e de impacto de grandes obras, como barragens, têm contribuído para novas descobertas, a mais recente delas no vale do rio Sabor. No local, já foram detectados mais de cem sítios arqueológicos no trecho que será afetado por uma represa.

Muitos dos sítios descobertos ficarão submersos, o que, segundo Luís Pereira, não quer dizer destruídos. O arqueólogo garante ser esta a forma de preservá-los durante alguns séculos, desde que tomadas medidas necessárias para a minimização do impacto.

Em conjunto com outro pesquisador da Igespar, o arqueólogo já identificou 3.600 sítios em toda a região de Trás-os-Montes. Destes, mais de 2 mil já estão devidamente identificados, caracterizados e disponíveis ao público, na internet.

A região trasmontana representa mais de 10% dos sítios registrados neste levantamento em Portugal.



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