Por causa do inverno frio e seco, as amendoeiras do Alto Douro encolheram-se e atrasaram as flores. Trocaram as voltas aos municípios que assinalam o desabrolhar das ditas com festas, que este ano serão alvo de cortes.
\"As amendoeiras estão atrasadas cerca de 10 dias em relação ao que é normal\" nota, ao JN, o presidente da cooperativa Coamêndoa, Joaquim Grácio. Mas acredita que \"se as temperaturas atuais se mantiverem, como está previsto, no início de Março já teremos flores\".
Se assim for, ainda virão a tempo de colorir alguns dias dos programas dos concelhos do Alto Douro que assinalam com festa a época em que as amendoeiras se vestem de branco e rosa mas que não têm, este ano, dinheiro para grandes floreados. Vila Nova de Foz CÎa continua a apostar forte, mas os restantes procuram mostrar a baixo custo o melhor que a terra tem.
\"Para nós, este certame é mais um investimento do que uma despesa\", justifica o presidente da Câmara foz-coense, Gustavo Duarte. O orçamento é de 120 mil euros e uma boa fatia vai para os artistas e grupos de renome nacional que vão abrilhantar algumas noites. A fatura, arrojada nos tempos que correm, não preocupa, porém, o autarca. \"O certame traz retorno porque deixa muito dinheiro na hotelaria, restauração e em quem vende produtos regionais\".
Em Figueira de Castelo Rodrigo, o vereador Carlos Condesso lamenta o \"corte significativo nas atividades a desenvolver em 2012\". A prioridade é a \"promoção da Natureza, potencialidades turísticas do concelho e produtos locais\". A poupança será alcançada pelo lado da animação musical. A despesa desce para 10 mil euros (15 mil em 2011). \"Chegámos à conclusão que as pessoas vêm ver as amendoeiras em flor e não tanto os espetáculos\".
Em Torre de Moncorvo o investimento deverá rondar 40 mil euros. A Câmara paga cerca de metade e o resto sai do programa de regeneração urbana. O ano passado foi de 45 mil euros. O presidente, Aires Ferreira, assume que a crise obrigou a olhar para a festa de outra forma. \"Até agora esteve mal orientada, com muito investimento em espetáculos à noite, quando, afinal, a grande maioria dos visitantes não pernoita cá\", nota o edil. Salienta que a melhoria dos acessos fez aumentar o transporte próprio na mesma relação em que diminuíram as excursões em autocarro. \"Na década de 1980 tínhamos 80 camionetas a pernoitar.
Atualmente, num fim de semana bom, temos vinte e tal\". Daí que contratar espetáculos caros para as noites significa \"fazê-los para os residentes\". Atualmente a animação musical \"ocorre à tarde e com grupos locais\".
Freixo de Espada à Cinta já tinha reduzido os custos com as amendoeiras em flor o ano passado e no corrente seguiu a mesma linha. \"Disponibilizamos, apenas, um espaço aos nossos agricultores e produtores regionais para poderem fazer negócio e deixámos de fazer a feira transfronteiriça\", explica o autarca, José Santos. Já lá vai o tempo dos mais de 100 mil euros gastos nesta época. \"Este ano não gastaremos mais do que cinco mil euros\", torna.
Mogadouro prevê gastar 14 mil euros, menos seis mil que em 2011 e também vai privilegiar a prata da casa. A vereadora Teresa Sanches diz que \"é difícil ter público nesta altura para espetáculo caro\", pelo que a principal aposta vai para outros eventos durante o Verão. Em Vila Flor, a câmara tem previsto algumas iniciativas mas ainda não fechou o programa.
Afluência de público pode ser menor
As expetativas dos autarcas em relação à afluência de turistas ao Alto Douro dividem-se. \"Uma família com dois ou três filhos, comer, dormir, combustível, portagens, etc... já pesa um bocado\", reconhece Gustavo Duarte, que, no entanto, faz depender do tempo a maior ou menor afluência. Carlos Condesso pensa da mesma forma e prevê que cresça.
\"Como há menos dinheiro, as pessoas já não vão tanto para fora e procuram mais o que é nacional. E contamos com muitos espanhóis\", salienta. Aires Ferreira partilha da opinião de Condesso, mas está convencido que \"haverá menor consumo\".
José Santos diz ter \"a certeza\" que este ano irá \"menos gente\" ver as amendoeiras em flor. \"As pessoas estão a retrair muito os seus gastos. Virão apenas os mais desafogados\", justifica. Mogadouro também prevê uma redução da afluência até porque Teresa Sanches diz que o concelho \"não atrai muitos turistas no inverno\".