A igreja de Nossa Senhora da Guadalupe, em Vila Real, considerada uma das igrejas românicas mais bem conservadas da Europa, apresenta o ano de 1529 como data da sua construção, contudo as mais recentes investigações mostram que foi construída pelo menos três séculos antes.

O geólogo e investigador da UTAD, David Martín Freire-Lista, nos estudos em que se vem especializando sobre as marcas deixadas pelos pedreiros nos monumentos antigos, concluiu que a Igreja de Guadalupe foi construída entre os séculos XII e XIII. “Cada um dos seus blocos mostra a marca dos pedreiros medievais que a construíram, sendo possível observar até nove tipos diferentes de marcas, correspondentes a letras proto-góticas usadas nos séculos XII e XIII”, sustenta o investigador.

Pela análise das paredes da igreja, seja através das marcas dos pedreiros, seja pela iconografia dos “cachorros” nas fachadas, podem obter-se – segundo David Freire-Lista – “informações sobre a construção, permitindo entender a evolução ao longo da história e outros aspetos de natureza etnográfica, como sejam os principais produtos cultivados na região durante a Alta Idade Média”.

Com efeito, acrescenta o especialista, “na fachada noroeste encontram-se predominantemente cachorros representando cabeças de homens, além de cabeças de monstros, cordeiros, barricas de vinho e mulheres mostrando os genitais”. Por outro lado, “na fachada sudoeste predominam as mulheres representando seus afazeres diários, distinguindo-se fiandeiras, feixes de linho com uma escova de metal para descascá-lo e também referências ao vinho (mulheres segurando cabaças), bem como referências à olaria e ainda cabeças de monstros, ovelhas e cães com sua presa”.

É de referir que o erro da datação do monumento pode ter sido gerado pelas “Memórias Paroquiais de Vila Real”, de 1721, com a interpretação à presença na fachada da capela-mor de uma pintura mural com a inscrição de 1529, bem como o brasão de armas de D. Pedro de Castro, abade de Mouçós na mesma época, a quem passou a ser atribuída a construção do templo.

Reconhece, a propósito, o investigador David Freire-Lista, que a D. Pedro de Castro pode ter cabido uma possível reconstrução da capela-mor, tendo aí sido colocado, na data indicada, o seu brasão. Apoia-se esta análise no facto de alguns dos “cachorros” originais aí colocados pelos pedreiros, terem sido mudados para a Igreja de São Tiago de Folhadela, também em Vila Real, onde este estudioso os conseguiu identificar.



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