Uma antiga escola primária de Murça, distrito de Vila Real, acolhe o Centro de Memória da Educação, um projeto que junta investigadores e município e que pretende preservar a herança da atividade docente e da aprendizagem.
Em Murça, segundo explicou à agência Lusa a investigadora e coordenadora do projeto, Margarida Felgueiras, foi criado um centro através do qual se pretende fazer a “recolha de memórias da atividade docente e da aprendizagem” em Portugal e zona transfronteiriça.
“Com uma atenção especial aos edifícios escolares, mas também sobre os materiais, o mobiliário e as memórias de quem fez a educação, quer ensinando quer aprendendo”, explicou.
Com o encerramento das escolas primárias e a concentração dos alunos nos centros escolares, há uma parte da história da educação e do ensino que corre o risco de se perder.
O Centro Interdisciplinar, Transfronteiriço e Inter-Regional de Memória da Educação (CITRIME) envolve 10 investigadores das Universidades do Porto e do Minho e conta com a parceria da Câmara Municipal de Murça.
O projeto está a ser desenvolvido no âmbito da candidatura “Raízes da Educação para o Futuro”, aprovado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
Margarida Felgueiras realçou algumas especificidades de Murça, como “os testemunhos ainda vivos” e a “recolha de materiais significativos em relação às mestras”, que se dedicavam a uma espécie de ensino pré-escolar.
“Também queremos recolher dados sobre as aprendizagens leigas, não só dessas feitas pelas mestras, como também das aprendizagens daqueles que não frequentaram a escola. Fomos, até ao final do século XX, um país com imenso analfabetismo. Em 1974, nós tínhamos cerca de 34% de analfabetos”, salientou.
A partir deste centro far-se-á investigação e recolha de materiais, mas este pretende ser também um “polo dinamizador” onde se realizarão exposições e encontros entre as escolas e os mais idosos.
No CITRIME já esteve patente uma exposição sobre as escolas “Conde Ferreira”, os primeiros edifícios escolares que foram construídos no século XIX e, atualmente, pode ser vista uma mostra proveniente de Santiago de Compostela (Espanha) que retrata as escolas “dos indianos”, um movimento que fez doações para a construção de estabelecimentos de ensino “numa época em que o Estado não investia na educação”.
“O que estamos aqui a preparar é mais um recurso, mais um ativo que o concelho pode aproveitar. Acima de tudo para recolher, para preservar e para garantir aquilo que é uma herança que não pode deixar de ser cuidada, que é a herança da memória escolar, que corre algum risco”, afirmou o vice-presidente da Câmara de Murça, António Marques.
Com a construção do centro escolar na sede, as cerca de 20 escolas primárias do concelho encerraram no ano letivo de 2008/09.
O autarca referiu que, alguns desses edifícios “estão muito bem aproveitados”, com projetos de base local como, por exemplo, centros de convívio, em que as “pessoas seniores podem conviver, ensinar, partilhar, trocar experiências com os mais novos, com as escolas”.
Na vila, o equipamento escolar possui vários edifícios que acolhem, agora, o CITRIME, a Universidade Sénior de Murça, a Cruz Vermelha e a Associação Amigos de Murça.