As irmãs sem acesso à Internet em casa em Carrapuços, em Ribeira de Pena, vão assistir a partir de hoje às aulas ‘online’ na escola de Cerva, numa solução conjunta entre o Agrupamento e o município.

O regresso do ensino à distância aumentou as preocupações de uma família que vive em Carrapuços, na União de Freguesias de Cerva e Limões, no concelho de Ribeira de Pena, distrito de Vila Real, onde praticamente não há acesso à Internet e as duas filhas têm de sair da aldeia para assistirem às aulas. Inês Magalhães anda no 3.º ano, e Cristina Magalhães frequenta o 9.º ano, em Cerva.

Patrícia Mucha, da Câmara de Ribeira de Pena, explicou à agência Lusa que a solução encontrada passa por levar as meninas para a escola de Cerva, inserido no Agrupamento de Escolas de Ribeira de Pena, onde terão as aulas à distância.

Trata-se, referiu, de “um espaço que conhecem, onde vão estar devidamente acompanhadas e onde têm acesso a almoço”, sempre que for necessário.

Segundo esta responsável, a câmara vai assegurar o transporte às duas alunas e os horários já estão delineados de acordo com as horas em que decorrem as aulas ‘online’. Ali também poderão permanecer para as aulas assíncronas.

A mãe das duas meninas, Lisete Gonçalves, já tinha contado à agência Lusa que em março, aquando do primeiro confinamento e interrupção do ensino presencial, a solução encontrada pela família foi levar as duas alunas para a casa de uma tia, a cerca de um quilómetro de distância.

Nesta segunda fase, o acesso ao ensino à distância fica resolvido com a ida para o estabelecimento escolar, mas mantém-se o problema de falta de Internet e até de rede móvel em Carrapuços.

“É que nem temos Internet nem telefones. Nem o de casa nem os telemóveis funcionam, temos de andar à procura do sítio certo, ou não dão e as chamadas caem. É tudo fraco”, referiu Lisete Gonçalves.

No dia-a-dia, tanto o telefone fixo como o telemóvel são colocados junto à janela que é o local onde diz que ainda vai funcionando a rede. “Ponho-me à janela para falar, mas nos dias de chuva nem na janela apanha”, apontou a encarregada de educação.

Lisete contou que tentou junto das várias operadoras, experimentou mudar de serviço, mas “sem sucesso”. “Da minha parte já não consigo fazer mais nada. Eu pagar, pago, mas a quem? As redes não têm cobertura”, referiu.

À Lusa desabafou: “Infelizmente, não podemos mudar a casa de sítio”.

A Câmara de Ribeira de Pena já disse que tem identificados, no concelho, “quatro a cinco” zonas sombra, sem acesso à Internet, e que o problema tem sido reportado às operadoras de telecomunicações.

O acesso à Internet ainda é um problema que afeta vários locais do Interior do país e representa uma barreira para a escola ‘online’.

Os alunos do 1.º ao 12.º ano retomam hoje as atividades letivas, mas longe das escolas, regressando das férias antecipadas para o já conhecido ensino a distância que marcou o final do ano letivo passado.

No total, são cerca de 1,2 milhões de alunos que voltam a ser obrigados a trocar, por tempo indefinido, as salas de aula pelas suas casas, quase um ano depois de, em março, o Governo ter encerrado as escolas e implementado o ensino a distância para conter a pandemia de covid-19.

As escolas encerraram as portas há duas semanas e as crianças e jovens ficaram em casa, numa pausa letiva que será compensada com aulas nos três dias de férias do Carnaval, em outros três dias da Páscoa e durante mais uma semana no final do ano letivo.

O ensino à distância durará pelo menos duas semanas, mas o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, assegurou que a prioridade do Governo é abrir as escolas o mais rapidamente possível, uma decisão que dependerá da evolução da pandemia de covid-19.

PLI (MICA) // JAP Lusa



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