A região de Trás-os-Montes é das mais ricas de Portugal em recurso geológicos, mas a localização e consequente isolamento dificultam a exploração como acontece com as minas de ferro de Torre de Moncorvo, apontaram hoje especialistas.
Várias personalidades e entidades ligadas ao setor estiveram reunidas, em Bragança, numa sessão em que foi apresentado um livro que reúne as potencialidades existentes como o lítio, atualmente cobiçado para as baterias dos carros elétricos, as minas como as de ferro de Torre de Moncorvo ou as águas minerais visíveis nas termas.
Apesar da apetência do mercado, as grandes jazidas de minério daquela que é das regiões portuguesas com mais recursos estão por explorar por o peso das exigências logísticas não convencerem potenciais investidores.
Como explicou Machado Leite, membro do Conselho Diretivo do Laboratório Nacional de Energia e Geologia, “a exploração dos recursos tem de ser económica, tem de ser sustentável e no passado eram sustentáveis explorações de pequena dimensão para mercados mais próximos”.
“Hoje a exploração é desenvolvida num âmbito muito globalizado e as condições que levam à viabilidade económica são mais complicadas: necessitam de dimensão, de tecnologias novas, que têm custos novos, que têm custos de contextos, custos ambientais, e a viabilidade económica se não for conseguida os recursos não podem ser valorizados”, preconizou.
Para este técnico, as minas de ferro de Torre de Moncorvo são “um exemplo claro disso: é uma grande reserva mineral, mas que não tem sido explorada porque o ferro de Moncorvo tem de ser competitivo numa escala mundial, pelo menos europeia, da chamada siderurgia”.
“Tem o problema da localização, há o problema do transporte dali para o mercado ou se fosse valorizado a níveis superiores de qualidade dos produtos, tinha de trazer outras matérias-primas para Moncorvo para fazer essa transformação”, exemplificou.
Outro caso mediático na região é o da exploração de Lítio em Montalegre com a oposição local, situações para as quais defende ser necessário que estes projetos de exploração de recursos sejam “bons exemplos de que contribuem para a melhoria das condições de vida no interior, que as pessoas se continuem a sentir bem e que haja disponibilidade de meios para que o interior se desenvolva”.
Os mais importantes recursos da região estão reunidos no livro “Recursos geológicos de Trás-os-Montes – Passado”, com contributos de vários especialistas e editado pelo professor e engenheiro de minas Carlos Balsa e pelo antigo presidente do Instituto Politécnico de Bragança e atual secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Sobrinho Teixeira.
Carlos Balsa explicou que “Trás-os-Montes é uma região particularmente rica em recursos geológicos, tem uma história geológica muito diversificada, que levou à formação de jazidas minerais em quantidades bastante importantes comparadas com outras regiões”.
Como defendeu, “fazia falta um documento que fizesse a divulgação de forma acessível e compreensível dos principais recursos geológicos da região” e “este livro junta as informações dispersas de forma a promover os principais recursos”.
Carlos Balsa recordou que esta já “foi uma atividade rica para esta região, em termos demográficos houve populações que duplicaram, triplicaram na época das minas, houve um certo desafogo financeiro que marcou muito a região”.
Sobrinho Teixeira salientou que este trabalho resulta dos chamados Laboratórios de participação Pública promovidos pelo Ministério do Ensino Superior e que nesta região, além de outros projetos, deu origem a um curso técnico em Torre de Moncorvo sobre minas.
Os contributos dos diferentes especialistas convidados para ministrar este curso são o conteúdo deste livro.