A embaixadora de Timor-Leste em Portugal, Pascoela Barreto, admitiu hoje que, em menos de uma década, a língua portuguesa falada actualmente por um quarto dos timorenses deverá ser generalizada a todo o país.

A diplomata admitiu que o português ainda não faz parte do quotidiano dos timorenses, mas assegurou que o governo de Timor-Leste \"está a tomar medidas\" para que dentro de alguns anos isso seja uma realidade.

A embaixadora falava na abertura do IV Colóquio da Lusofonia, em Bragança, que vai debater hoje e terça-feira a realidade de um país - Timor-Leste - que adoptou como oficial uma língua que não é falada pela maioria dos seus habitantes.

Os timorenses expressam-se, maioritariamente, em tétum.

Segundo Pascoela Barreto, \"há ainda alguma resistência à aprendizagem do português, devido aos 24 anos de ocupação indonésia, durante os quais a língua portuguesa foi proibida\".

\"Esta reintrodução [do português] acaba por ser um pouco mais difícil, porque muitos dos nossos jovens fizeram a sua formação na língua indonésia, mas as nossas crianças até ao sexto ano já aprendem o português e portanto todo o ensino é feito em língua portuguesa\", disse a diplomata à agência Lusa.

A embaixadora timorense acredita que esta geração contribuirá para que dentro de \"cinco, seis ou sete anos o português seja uma realidade generalizada no quotidiano de Timor-Leste\".

A diplomata realçou também o empenho e espírito de sacrifício e de missão dos professores portugueses que estão a ensinar a língua e a formar os professores\" do seu país.

\"Portugal tem feito um grande esforço nesta recuperação da língua portuguesa, mas também não quero deixar de enaltecer as iniciativas dos outros países da CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa], nomeadamente o Brasil, assim como os outros países\", afirmou.

Além do ensino, Pascoela Barreto realçou o \"esforço\" que o Governo timorense está a fazer para o desenvolvimento da língua portuguesa, fazendo questão de que todos os documentos oficiais sejam escritos em português.

\"Há, pelo menos, esse esforço de ir transpondo para o português toda a documentação oficial, incluindo a legislação\", disse.

A Justiça é \"uma das aéreas sensíveis em que, para a embaixadora, Timor precisa de continuar a contar com a ajuda\" lusófona.

Os magistrados timorenses estão actualmente a receber formação, enquanto que os tribunais funcionam essencialmente com juristas de outros países.

Pascoela Barreto espera que, também em menos de uma década, a língua portuguesa seja a língua usada nos tribunais de Timor-Leste.

O número de falantes do português em Timor-Leste tem vindo a aumentar desde a independência do país, em 1999, estimando-se que passou de entre a cinco a dez por cento para 25 por cento da população - um em cada quatro timorenses.

A organização do colóquio da lusofonia, a cargo da Câmara de Bragança e da Fundação \"Os nossos Livros\", entende que a acção da Igreja Católica contribuiu para que a língua portuguesa se mantivesse em Timor, mesmo durante a ocupação indonésia.

Daí a relevância atribuída à presença, em Bragança, do bispo resignatário de Díli e Prémio Nobel da Paz, D. Ximenes Belo, que é o convidado especial no segundo dia de trabalhos, terça-feira.



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