A ligação aérea Bragança/Vila Real/Lisboa pode ser suspensa no final de Maio por dificuldades financeiras da transportadora, que responsabilizou hoje o Estado pela situação.
O director comercial da empresa Aerocondor, Fernando Lopes, responsável pela carreira aérea, disse em declarações à Lusa que «será difícil, senão impossível, manter a linha, se até ao final de Maio, o Estado não acertar contas» com a operadora.
O governador civil de Bragança, Jorge Gomes, acusou hoje a empresa de incumprimento do contrato de concessão que tem com o Governo, através do qual recebe subsídios estatais.
Segundo o governador, há mais de dois meses que a Aerocondor cancela voos sem aviso prévio aos clientes e que actualmente só já há «voos uma vez por festa».
O governador disse que «esta semana, a empresa só efectuou um voo», quando no contrato com o Estado está prevista a realização de quatro ligações diárias.
Jorge Gomes adiantou que já pediu a intervenção do Ministério das Obras Públicas e Transportes.
O director comercial da Aerocondor disse à Lusa que o governador civil «está completamente equivocado e devia informar-se primeiro antes de falar».
Segundo disse o responsável, a empresa está com falta de comandantes de voo e por essa razão esta semana suspendeu duas das ligações diárias previstas, realizando apenas os voos da manhã Bragança/VialReal/Lisboa e à tarde no sentido inverso.
Garantiu que até ao final de Abril será retomada a normalidade dos voos, mas não deu garantias relativamente ao futuro da linha.
De acordo com o director comercial, a empresa «está a enfrentar a maior dificuldade financeira» em 50 anos de existência.
Uma das razões que apontou para estas dificuldades foi o «incumprimento por parte do Estado no pagamento dos subsídios».
A empresa recebe uma comparticipação do Estado pela linha de Bragança, que segundo Fernando Lopes «está atrasada sete ou oito meses».
De acordo com o responsável, só da linha de Bragança, a Aerocondor tem a receber 1,5 milhões de euros, a juntar a alegadas dívidas mais antigas de serviços prestados na Madeira.
De acordo com o director comercial, da carreira aérea que a Aerocondor fazia na Madeira, até Dezembro de 2006, o Estado ficou a dever 300 mil euros e mais 220 mil euros do serviço de desinfestação aérea das moscas, também naquele arquipélago.
O director comercial explicou que, devido a estes atrasos nos pagamentos, a empresa não tem também conseguido cumprir as suas obrigações para com o Estado, nomeadamente ao nível de impostos, embora garanta que «tem mais a receber do que a pagar».
«O Estado não paga enquanto nós não pagarmos e há vários meses que andamos a tentar fazer um acerto de contas», afirmou.
O director comercial garantiu que dos 1,5 milhões de euros que o Estado deve da linha de Bragança, a Aerocondor ainda tem a haver meio milhão no acerto de contas.
«Se até ao final de Maio não houver este acerto de contas, será muito difícil para a Aerocondor, senão impossível, manter a linha de Bragança», afirmou.
Segundo disse, já em Março, a empresa suspendeu alguns voos por dificuldades financeiras atribuídas aos atrasos dos pagamentos do Estado.
A Aerocondor está a «voar» em África, Escócia e França e a linha de Bragança é o único serviço que realiza em território nacional.
A empresa já suspendeu, na Páscoa, a ligação Bragança/Paris que criou há um ano a pensar nos emigrantes, sobretudo para as viagens em épocas festivas e de férias, como o Verão.
A taxa de ocupação da linha Bragança é «satisfatória», segundo o director comercial, atingindo, em Março, os 58%.
Esta semana, devido às dificuldades invocados pela falta de comandantes, a Aerocondor suspendeu dois voos com aviões lotados de reservas feitas por apenas uma empresa.
A empresa em causa é a Airtricity, da área das energias renováveis, que apresentou hoje em Bragança um projecto para a instalação de um mega-parque eólico.
No entanto, segundo o director comercial, mesmo que o avião, com 18 lugares, viaje cheio «dá prejuízo», daí a necessidade de subsídios do Estado.
A Aerocondor ganhou a concessão, em 1997, o ano em que foram retomadas as ligações aéreas entre Bragança e a capital.
Quatro anos depois perdeu a linha para a OMNI, e voltou a ganhar o concurso público de concessão, desde 2003.