A principal organização de produtores do Nordeste Transmontano, a associação da raça Mirandesa, deixou de abater no matadouro de Bragança com críticas à gestão e higiene, que a CDU local quer que a autarquia esclareça.
A CDU de Bragança ameaçou, segunda-feira, na assembleia municipal, pedir uma sindicância ao matadouro, caso a autarquia, principal accionista, não esclareça as acusações expressas numa carta da associação de produtores dirigida aos associados.
A cooperativa da raça Mirandesa, protegida pela União Europeia, abandonou esta unidade de abate em Maio, passando a utilizar o matadouro do Cachão, mas só em Outubro escreveu uma carta aos 750 associados a explicar as razões da sua tomada de posição.
Na carta, dirigentes desta organização alegam que a sua saída está relacionada, entre outros factores, com o facto de \"ter de pagar serviços mais caros do que qualquer outro comerciante\", embora a Mirandesa seja sócia fundadora da unidade de abate, com 26 por cento do capital social, divido ainda pela Câmara de Bragança, detentora de 49 por cento, e pelo Agrupamento de Defesa Sanitária (ADS), com 24 por cento das quotas, cabendo o restante a pequenos produtores.
A associação queixa-se também da falta de atenção do matadouro para o cumprimento de prazos na entrega da carne certificada a clientes e da falta de qualidade no serviço de esfola e desmancha, dizendo mesmo que recebeu \"críticas dos clientes e relatórios de análises clínicas a dizer que a carne processada na unidade estava contaminada com fezes\".
Os dirigentes da Mirandesa recusaram prestar declarações sobre o assunto nesta altura, porém, fonte da associação disse à Agência Lusa que foram detectadas duas situações de \"contaminação grave\", realçando que \"nem a qualidade, nem o consumidor final foram afectados\".
Para José Brinquete, da CDU de Bragança, \"a serem verdade, as denúncias da Mirandesa indiciam graves ilegalidades e irregularidades e exigem esclarecimentos do presidente da Câmara\".
\"Se não formos devidamente esclarecidos em função do que está nesse comunicado, ponderamos a hipótese de recorrer à Inspecção Geral da Administração do Território para um sindicância ou até mesmo à Inspecção Geral de Finanças\", afirmou, acrescentando ponderar também \"medidas relativamente à questão sanitária\".
Para o presidente da Câmara de Bragança, o social-democrata Jorge Nunes, a questão \"não passa de um facto político que a CDU quis criar para a comunicação social\".
Nunes disse não ter lido a carta da Mirandesa, mas considera que \"tem lá muita inverdade, não faz sentido\".
\"Há pessoas que só destroem, não são capazes de construir\", disse, considerando que os agricultores do concelho não se revêem sequer naquele processo.
Relativamente às denúncias, nomeadamente de falta de higiene, afirmou que \"o matadouro tem uma médica veterinária permanente a fazer a vigilância de todos os aspectos higiénico-sanitários, pelo que fazer uma afirmação dessas é gravíssimo\".
\"Então a Mirandesa foi o principal cliente e esteve calada enquanto esteve a utilizar? Não foi por isso que a Mirandesa saiu, há outras motivações\", disse, escusando-se a especificar quais.
Nunes admitiu à assembleia municipal que a autarquia ainda não discutiu o assunto, embora considere que \"já o devia ter feito\".
\"Temos o nosso próprio calendário, que não é o de quem pressiona a resolução de determinadas situações\", disse.
O autarca não comentou o facto de associação, que abate e comercializa 2.500 bovinos por ano, com um volume de negócios de meio milhão de contos, já ter proposto a venda da sua participação no matadouro, sem obter resposta.
A oposição critica ainda o facto de \"o matadouro estar a dar sistematicamente prejuízos, o que pode implicar legalmente a dissolução da sociedade\", segundo Fernando Peixinho, do PS, que disse não dispor ainda de dados relativamente às contas de 2004.
Para o autarca Jorge Nunes, \"o matadouro tem uma função social importante e a Câmara oportunamente dirá qual é o investimento que irá fazer para cumprir essa função\". Recusou concretizar qual o montante que a autarquia vai injectar no matadouro para cobrir os prejuízos, assim com o valor dos mesmos.