Só na noite de sábado cerca de duas mil pessoas “invadiram” Alfândega da Fé para participarem na Festa do Orgulho Transmontano, naquela que já foi considerada como uma das melhores edições de sempre.
E contra todas as previsões, principalmente, as mais pessimistas, depois do mau tempo que se fez sentir na região norte antes da apanha do fruto mais apetecido nesta época veio a tão aguardada bonança. Houve cerejas para todos, sobretudo, de boa qualidade e a preços muito apetecíveis para aqueles que decidiram visitar Alfândega da Fé, por ocasião da Festa da Cereja.
Num dos eventos mais mediatizados dos últimos anos, no que a um certame regional diz respeito, uma mediatização provocada pelas declarações proferidas por José Cid relativamente aos transmontanos, a autarquia alfandeguense soube e bem aproveitar aquilo que potencialmente poderia ter sido uma coisa má, transformando-a em algo extremamente positivo com a festa do orgulho em se ser transmontano. Festa essa que teve lugar no sábado, dia 11, e que contou, propositadamente, com artistas da região como Roberto Leal, nascido em Vale da Porca, uma aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros, e com os mirandeses Galandum Galundaina. Só nessa noite e de acordo com a edil alfandeguense, passaram pelo recinto do Parque Municipal de Exposições, sensivelmente, duas mil pessoas.
“Houve muita gente que veio de fora e que me manifestou o seu desagrado perante tais declarações, mas mais importante ainda, admitiram elas próprias existir um preconceito contra os transmontanos que depois de instaurada toda esta polémica e, sobretudo, depois dos transmontanos terem afirmado com tamanho ímpeto o seu orgulho e a sua identidade da forma como o fizeram, quebraram, assim, esse preconceito existente e que essas pessoas que me abordaram garantiram ter sentido e presenciado em diversas circunstâncias”, explicou Berta Nunes. “Ou seja, de algo negativo acabaram por surgir todas estas coisas positivas e é nisso que temos de nos focar”, sublinhou a autarca alfandeguense, em entrevista ao Diário de Trás-os-Montes, destacando sábado como tendo sido o melhor dia.
“No domingo, vieram muitos autocarros para o picnic do Ti João e o balanço final é extremamente positivo. A cereja era boa, chegou até ao final do certame e as vendas correram bem para os nossos expositores, não só em termos do fruto cabeça de cartaz, mas como também a nível de outros produtos, pois como sabe a Festa da Cereja tem uma panóplia muita vasta de produtos regionais que vão muito para além da cereja como os queijos, os enchidos, azeites, ervas aromáticas, produtos silvestres, compotas ou licores e até um Vinagre de Cereja”, asseverou Berta Nunes, visivelmente satisfeita com o decorrer do certame e orgulhosa pela escolha dos artistas ter sido a mais correta. Até porque, quer o Roberto Leal, quer os próprios Galandum Galundaina, acabaram por tecer, ao longo das duas horas de concerto, diversas insinuações às declarações “insultuosas” de José Cid, sem nunca, no entanto, se referirem ao autor da já famosa expressão “pessoas medonhas, feias e desdentadas”, mas com “indiretas” que todos perceberam e aplaudiram.
Esta edição de 2016 da Festa da Cereja vai, sem dúvida, ficar gravada na memória de todos, pois, para além de ter sido a mais falada, não só nos media regionais, como também nos nacionais, e de se ter tratado de um sucesso sem precedentes, devido, também, à forma hábil como a autarquia alfandeguense soube lidar com toda a polémica instaurada, serviu, efetivamente, para robustecer a união e o orgulho do povo transmontano, ajudando, assim, por força da demonstração e da solidariedade, a vencer um preconceito, aparentemente, “invisível”, mas que muitos afirmavam existir.