Apesar de não conclusivo, o relatório sobre o acidente da linha do Tua indica que o problema está na infra-estrutura ferroviária. O presidente da Metro exige saber quanto custa reabilitar a linha e se o Governo tem vontade política.
\"Se for essa a única causa, tenho de saber urgentemente quantos milhões custa uma intervenção para ter segurança total na linha, pois falamos de mais de 60 quilómetros\", refere José Silvano, presidente da Metro e da Câmara de Mirandela, depois de saber que o relatório da comissão de inquérito (CTI) ao acidente na linha do Tua, em 22 de Agosto, indica que pode ter havido um abatimento da via, no local onde se deu o descarrilamento, provocando um morto e 37 feridos. Silvano quer ter, também, certezas quanto \"à vontade política do Governo para fazer esse investimento\".
No entanto, tal como o JN avançou ontem, a CTI diz não ter ainda elementos suficientes para concluir o que esteve na sua origem. Uma situação que deixa o autarca agastado, \"temos assistido a um passar de culpas, em que cada entidade defende a sua jurisdição e tudo se processo a passo de caracol\". José Silvano diz que não vai facilitar: \"Tenho de ter certeza absoluta, através de um relatório conclusivo, de que não há perigo nenhum para as pessoas, sob pena de não deixar arrancar até ao Tua o metro de Mirandela, ainda que a empresa continue a ter um prejuízo enorme\".
O autarca reitera que esta indefinição está a causar constrangimentos financeiros à empresa, que tem feito apenas o percurso entre aquela cidade e o Cachão, já que a maior extensão da linha - entre o Cachão e o Tua - está encerrada desde o acidente. \"Estamos a ter cerca de dez mil euros de prejuízo mensal, tendo em conta a despesa acrescida com o serviço alternativo prestado por quatro táxis, que fica em cerca de 500 euros por dia\", afirma o edil.
Também \"Os Verdes\" já reagiram. Manuela Cunha, dirigente do partido ecologista, diz que vai reiterar o pedido da presença do Ministro na Assembleia da República para prestar esclarecimentos.
Entretanto, até ao final da tarde de ontem, o gabinete de Imprensa do Ministério das Obras Públicas Transportes e Comunicações apenas confirmava que não recebeu o relatório da Comissão de Inquérito. \"Logo que isso aconteça, o Ministério divulgará, no modo e no momento que entender mais oportunos, a decisão do ministro\", dizia a missiva em resposta ao pedido do JN.
Este atraso nas conclusões do inquérito já não é original. O caso ainda foi pior aquando do acidente do dia 12 de Fevereiro do ano passado, próximo do apeadeiro de Castanheiro do Norte, que causou três vítimas mortais.
Um mês e mês e meio depois, o Ministério recebeu o relatório do inquérito que dava conta de que o acidente ficou a dever-se ao desabamento de pedras que se terão desprendido da trincheira. No entanto, estas conclusões foram enviadas para o LNEC para apreciação e para se pronunciar sobre as condições da infra-estrutura e intervenções necessárias à sua reabertura.
Depois de terminados os trabalhos na linha, em Novembro, o LNEC tornou público que as automotoras só podiam andar em regime de \"marcha à vista\", ou seja, não podiam circular a mais de 30 quilómetros hora. Uma restrição que apanhou de surpresa a Refer, que contava reabrir a linha, nove meses após o acidente, obrigando-a a efectuar mais trabalhos na estrutura. A 28 de Janeiro deste ano, quase um ano depois, é que a linha reabriu, nos cerca de 55 quilómetros, entre Mirandela e o Tua, mas com as condicionantes já referidas.
As famílias das três vítimas mortais já foram indemnizadas, com valores desconhecidos, após acordo com as seguradoras.