A competição de todo o terreno automóvel "King of Portugal" (KOP), prevista para decorrer entre hoje e domingo em Vimioso, foi cancelada devido ao alerta de agravamento do risco de incêndio florestal, anunciou hoje o presidente da autarquia.
A prova registou este ano o maior número de equipas – 67 oriundas de 22 países de três continentes – para disputar um traçado de 390 quilómetros.
Em declarações à Lusa, o presidente da Câmara de Vimioso, Jorge Fidalgo, criticou hoje o despacho conjunto do Ministério da Administração Interna (MAI) e do Ministério da Agricultura, assinado na terça-feira, que motivou o cancelamento desta prova, por “determinar a completa interdição e, portanto, a paralisação de qualquer atividade no mundo rural ao proibir o acesso, circulação e permanência em espaços e caminhos florestais, bem como em caminhos rurais”.
“É completamente absurdo”, disse, acrescentando que Vimioso “é um concelho com uma economia débil que tem uma prova internacional com valias económicas e o Governo, numa atitude mais papista que o papa, desconsidera todos os esforços, não atende a especificidades e prejudica um concelho e a imagem do próprio país”.
Jorge Fidalgo (PSD) afirmou compreender “a necessidade de implementar medidas de prevenção/proteção de combate a incêndios”, mas disse não poder deixar de “lamentar e expressar o sentimento de revolta” pela publicação do despacho.
“A prova ‘King of Portugal’ está devidamente licenciada e todo o percurso foi inspecionado pela GNR e Bombeiros de Vimioso. Está prevista e assegurada a presença da GNR, Bombeiros e Segurança privada durante toda a prova. A prova realiza-se há sete anos, sempre em condições piores do que as atuais em termos de segurança”, disse.
O autarca acrescentou que “o grande investimento, ano após ano, é justamente na segurança em função das exigências cada vez mais apertadas das forças de segurança e bombeiros”, pelo que “não se compreende tal medida”.
“O senhor primeiro-ministro afirmou que os autarcas são os primeiros responsáveis pela proteção civil nos seus concelhos. Está implementada a ditadura do Governo, porque eu não fui ouvido por ninguém. É o Governo que me afirmou que não abre exceções”, sublinhou.
Para Jorge Fidalgo, “com este despacho, o que o Governo determina é que as pessoas do mundo rural fiquem prisioneiras nas suas próprias casas”, sendo que, “no limite, não podem ir à horta, apanhar amêndoa, vindimar”, o que é “incompreensível”.
“Assim, proibindo tudo, é fácil resolver os problemas”, concluiu.
O despacho governativo assinado na terça-feira refere que a Proteção Civil determinou a passagem de estado de alerta especial nível vermelho do dispositivo especial de combate a incêndios rurais para 13 distritos do Centro e Norte do país, até às 23:59 de domingo.
Os distritos em alerta vermelho, o mais elevado da escala, são Aveiro, Braga, Bragança, Castelo Branco, Santarém, Coimbra, Guarda, Portalegre, Porto, Vila Real, Viana do Castelo, Viseu e Leiria, devido às altas temperaturas esperados para os próximos dias e agravamento do risco de incêndios.
Entre outras medidas de caráter excecional no âmbito da situação de alerta, consta a "elevação do grau de prontidão e resposta operacional por parte da GNR e da PSP", com reforço de meios para operações de vigilância, fiscalização, patrulhamento e apoio geral às operações de proteção e socorro que possam vir a ser desencadeadas, e a proibição total de utilização de fogo de artifício ou de outros artefactos pirotécnicos.
Prevê ainda a proibição do acesso, circulação e permanência no interior dos espaços florestais, previamente definidos nos planos municipais de defesa da floresta contra Incêndios, bem como nos caminhos florestais e caminhos rurais.
Na sexta-feira, os promotores do KOP afirmavam que esperavam cerca de 6.000 espectadores, na sua maioria portugueses, espanhóis e franceses, um número que tem por base a anterior edição do evento automobilístico.
Para o comércio de Vimioso, a KOP é também sinónimo de "negócio" para os agentes económicos locais, com incidência na restauração, cafés, comércios e postos de combustível.
O investimento nesta prova de todo o terreno, de acordo com os seus responsáveis, ronda os 80 mil euros que são suportados pelo município, empresa Nortex4 e patrocinadores.
A organização da prova é da responsabilidade do Clube NorteX4 e do município de Vimioso.
Foto: AP