O Centro de Arte Contemporânea Graça Morais acolhe uma mostra artística que procura “questionar o rumo e o caminho que estamos a percorrer e aquilo que nos irá fazer anular e aniquilar como existência humana no mundo”.

 

Foi inaugurada este sábado, dia 17 de março, a exposição “Knife and Wound” de Filipe Marques. Dezenas de pessoas marcaram presença no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais (CACGM) para assistirem à abertura de uma exposição que, de acordo com o artista, pretende “questionar o rumo e o caminho que estamos a percorrer e aquilo que nos irá fazer anular e aniquilar como existência humana no mundo”. “Eu aqui peguei num tema teológico que foi o momento do primeiro fratricídio da história, que terá sido o assassinato de Abel às mãos do seu irmão Cain e questionar, também, a questão do parricídio em que Freud contempla o porquê de  Deus ser um Homem e não uma Mulher quando, supostamente, a Mulher é que devia ser Deus”, revelou o pensador, o executante, o artista visual. Nas palavras de Filipe Marques, esta mostra “resume-se a um storyboard baseado num filme que eu fiz no ano passado que se chama “Ferida e Faca”, mudei só o nome, criei um subtítulo para esta exposição “Knife and Wound”, que foi “God, Meaning, Subject, Money and Phallus”, que elenca todas as questões que são aqui abordadas”.

As imagens das projeções “contemplam cenários de guerra em terra, no ar, na água e, precisamente, o diálogo e a tensão crescente entre Abel e Cain, sempre com a observação de Deus com o pai dos irmãos”, explicou o artista natural de Vila do Conde. Já os desenhos a carvão e a grafite na galeria do rés-do-chão refletem o “poder da memória, do despojo, da reação que temos todos nós perante o despojo e a ruína e, também, a ruína da nossa saúde e da condição humana”.

Durante o seu discurso de abertura, Filipe Marques, visivelmente emocionado, dificilmente conteve as lágrimas, denunciando não só o conturbado período que atravessa, por motivos de saúde, mas, também, a fragilidade da condição humana que ressoa, pessoalmente, em cada um de nós. No final e em conversa com o Diário de Trás-os-Montes, falámos abertamente com o artista sobre como a doença transparece e influencia o processo criativo. “Eu não posso fazer aquilo que não sou ou aquilo que não estou a sentir. Portanto, o meu trabalho sempre teve muito a ver comigo, mesmo noutros tempos, é um trabalho que é meu, de autoscopia, muito pessoal e quando as coisas são mais densas, neste caso, em particular, em que os contextos são mais perturbados, vem ao de cima essa densidade. Ou seja, só faço aquilo que sou e aquilo que sinto”, confidenciou, sentido, Filipe Marques, que expõe pela primeira vez na capital do nordeste, trazendo consigo 29 peças para uma mostra cujo resultado final, assume, o faz “feliz”.

 

São 29 as peças de arte em exposição no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, sendo que muitas foram apresentadas ao público pela primeira vez em Bragança

 

Com a curadoria a cargo de Jorge da Costa , esta mostra artística resulta de uma coprodução do Município de Bragança, do CACGM e de OTIIMA ArtWorks. “Esta exposição já há muito que estava programada, o convite já há muito tempo que havia sido feito ao Filipe Marques, eu fui acompanhando o trabalho dele e chegou o momento de o apresentar a Bragança”, começou por argumentar o diretor do CACGM. A partir do momento em que o convite foi concretizado, Filipe Marques “começou a trabalhar numa exposição para este espaço”, até porque se “percebe pela dimensão e pela produção da obra que ela, de facto, foi pensada especificamente para este Centro de Arte Contemporânea”, sustentou Jorge da Costa, manifestando que é “uma grande alegria” receber uma exposição de um artista tão “talentoso” como Filipe Marques. À exceção dos desenhos da galeria do rés-do-chão, todas as restantes peças do artífice vila-condense foram apresentadas pela primeira vez em Bragança.    

O executivo do município brigantino, por sua vez, regozija-se com mais esta exposição, no sentido de poder continuar a prestar um contributo importante à arte e à cultura no concelho nordestino. “O Centro de Arte Contemporânea tem esta orientação de trazer sempre bons artistas a Bragança e Filipe Marques não é exceção”, certificou Hernâni Dias, aproveitando para elogiar uma obra que considera “absolutamente fantástica”. Trata-se de tentar proporcionar aos visitantes, na visão do edil brigantino, “mais uma excelente exposição que faz, também, com que o Centro de Arte Contemporânea continue a ser uma referência no que à apresentação de grandes obras de arte diz respeito”.

O facto de Filipe Marques ter trazido com ele dois autocarros repletos de pessoas amigas, familiares e apreciadoras da sua arte, foi mencionado no discurso do presidente da Câmara Municipal de Bragança. “Este foi um caso particular, normalmente isso não acontece com esta dimensão. A verdade é que associadas ao artista, vieram muitas pessoas para ver a obra dele e vieram também, na nossa perspetiva, dar um contributo para a dinamização económica e turística do nosso concelho e estou certo que estas pessoas um dia regressarão”, testemunhou Hernâni Dias, até porque acredita que estes visitantes ficaram “muito bem impressionados, quer com a cidade, quer com a vertente gastronómica, quer com a vertente cultural, pois tiveram a oportunidade de conhecerem um equipamento que é uma referência a nível nacional e internacional”.

 


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