Decorreu este domingo em S. Pedro da Silva, concelho de Miranda do Douro, uma das mais carismáticas tradições de mascarados do Nordeste Transmontano, enraizada no tempo que a todos se perde de memória, L Bielho i la Galdrapa saem na festa de Santa Luzia (a 13 de dezembro) ou no domingo mais próximo.
Este ano, a festa integra um roteiro da Câmara Municipal de que fazem parte mais 3 tradições ancestrais dos rituais e figuras ligadas ao solstício de inverno, o Festival Geada (Bamos derretir L Carambelo) no fim de ano, acompanhado do madeiro (radicional Fogueira do Galo) a arder em frente à Concatedral de Miranda do Douro.
Miranda do Douro preserva assim as suas tradições de Solstício de inverno, compostas pelas festas dos mascarados, com a Festa de Santa Luzia - L Bielho i la Galdrapa em São Pedro da Silva, a Festa dos Moços - Fiesta de San Juan em Constantim e a Festa do Menino em Vila Chã de Braciosa.
A Festa de Santa Luzia - também designada por Fiesta de l Bielho i la Galdrapa “consiste na realização de uma ronda de peditório pela povoação, sendo a comitiva integrada pelo Velho, Galdrapa, Bailadores, instrumentistas e mordomos, que têm como função recolher as dádivas para festa”.
Segundo Benjamim Pereira, no seu livro “Mascaras Portuguesas” de 1973 descreve este ritual como: ”a velha, com grandes seios, leva um rosário de cortiça com um santo preto pendurado, uma bexiga de porco cheia de ar numa das mãos e na outra uma estaca bifurcada para tirar os chouriços do fumeiro.” “O velho, corcunda, vestido de burel, com longas barbas de lã, óculos de cortiça, leva um cantil ao ombro e uma saca para os chouriços na mão, é o velho de santa Luzia”.
“O velho de quando em quando é espancado pela velha. Atrás deles segue um “filho” e uma “filha”. Acompanhados um tocador de gaita-de-foles, um bombo e caixa.”, ritual que ainda se repete hoje em dia pelas ruas da aldeia, em que a única diferença que se nota é a idade avançada da população que é uma imagem comum a todo nordeste.
O município de Miranda do Douro está a apostar na divulgação e promoção das festas do solstício de inverno deste concelho, para as submeter ao Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial, disse hoje à Lusa a presidente da câmara.
“Temos esta grande pretensão de inscrever as festas do Solstício de Inverno no Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial (PCI), por esse motivo este ano apostamos na promoção e divulgação destes rituais ancestrais”, explicou a presidente da câmara local, Helena Barril.
A autarca social-democrata daquele concelho do distrito de Bragança acrescentou ainda que, ao longo dos últimos anos, são muitos os visitantes e estudiosos que visitam a Terra de Miranda para registar estes rituais de solstício de inverno que têm um caráter pagão, mas ao mesmo tempo uma forte componente religiosa.
“Com esta aposta na divulgação e promoção destes rituais pretendemos que sejam cada vez mais as pessoas - tanto portuguesas como estrangeiras - a deslocar-se ao território para a sua divulgação para avançar com a inscrição”, indicou a autarca.
Textos com Lusa e Fotos: António Pereira