A presidente da associação Ninho, Inês Fontinha, apontou a prostituição como um dos maiores negócios ilícitos mundiais, que já supera o tráfico de droga e rivaliza com o tráfico de armas.
"Isto é dito pela Interpol e pela Europol: hoje em dia a prostituição rende mais que o negócio da droga e rivaliza com o tráfico de armas", afirmou segunda-feira em Bragança a dirigente da associação nacional de apoio a mulheres prostituídas.
Inês Fontinha falou num colóquio sobre "Legalização da Prostituição, sim ou não", promovido pela delegação de Bragança do Sindicato dos Professores do Norte.
Tema obrigatório do debate foi o auto-denominado movimento "Mães de Bragança" que projectou o problema da prostituição nesta cidade do Nordeste Transmontano para a capa da revista Time.
"Bragança é apenas a ponta do iceberg", na opinião de outra das oradoras, Regina Marques, do Movimento Democrático de Mulheres (MDM), que falou em quatro milhões de mulheres abrangidas por este negócio em todo o Mundo, citando dados de diversas organizações, nomeadamente as Nações Unidas.
Para ambas as oradoras esta preocupação mundial não se combate com a legalização da prostituição.
"Não podemos ceder a uma situação que envolve milhões e milhões de euros", declarou Inês Fontinha, para quem "a legalização fere a dignidade humana".
Esta solução foi defendida apenas por Fernando Bessa, único homem chamado a falar, antropólogo e um dos investigadores a trabalhar num estudo, cujos resultados serão conhecidos até ao final do ano, e que envolve as universidades de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD), do Minho e da Beira Interior.
Este investigador, docente da UTAD, defende a "legalização imediata" da prostituição, que considerou como uma "prestação de serviços sexuais" por "trabalhadoras sexuais", que deve estar devidamente regulamentada como qualquer actividade laboral.
Este seria, na sua opinião, um passo para combater o "estigma" que existe em relação a quem se prostitui, não só na sociedade, mas também na "letra da lei e na cabeça de quem tem o poder de aplicá-la".
Como exemplo, Fernando Bessa lembrou que os tribunais "decretam em regra que as trabalhadoras sexuais são inaptas ou impróprias para educar as suas crianças", quando está em causa a tutela dos filhos.
Para este investigador, o combate a este estigma passa pela legalização da prostituição, não como um mal menor, mas como um trabalho igual a qualquer outro.
A ideia repugna Inês Fontinha, que disse falar com o conhecimento de causa graças a uma instituição (Ninho), que já atendeu cerca de 7.000 mulheres prostituídas em mais de 30 anos.
"Se quisermos levar isto aos extremos, eu pergunto: qual seria então a idade da reforma, seria uma profissão de alto risco, pode começar a prostituir-se com que idade?", retorquiu.