No meio da tragédia de anteontem, em S. Mamede de Ribatua, onde quatro operários da construção civil morreram electrocutados quando montavam uma grua, houve alguém com sangue-frio suficiente para evitar a morte de um quinto trabalhador.
Aflito ao ver os companheiros de trabalho morrerem, Manuel Pereira, 56 anos, tentou desligar o gerador, sem se aperceber de que corria para a morte também. Mais lúcido, Aurélio Rodrigues, que se tinha posto a salvo, deu-lhe um pontapé para afastá-lo do aparelho. \"Não hesitei, dei-lhe logo um chuto nas costas\", recorda.
Entretanto, na localidade, consternação era insuficiente para descrever o estado de espírito dos habitantes, que viram morrer os quatro homens, um deles filho da terra. Aquela estrutura tinha chegado nesse dia, encomendada em Espanha por um empreiteiro de Alijó, ex-emigrante no Canadá, para uma obra particular com licença camarária que caducou em Agosto.
Susana Duarte da Inspecção de Trabalho, diz que \"é cedo para tirar conclusões\", mas avançou que \"aparentemente, não foi feita uma avaliação dos riscos, das condições do local e da própria hora (cerca das 19 horas), pois já estava escuro\". Mas, segundo o JN apurou, a causa mais provável terá sido a inexistência de ligação do fio de terra do equipamento eléctrico que estava a ser montado.
Albano Ribeiro, do Sindicato dos Trabalhadores da Construção do Norte, é peremptório nas acusações: \"Aqueles funcionários não morreram. Foram mortos pela negligência dos responsáveis\". E promete agir criminalmente depois de apuradas as culpas.
As vítimas estiveram duas horas mortas no chão, à espera do piquete da EDP para desligar a electricidade na área. A protecção civil de Alijó evacuou todas as habitações próximas e vedou o local. Fonte da EDP garantiu que \"só não chegaram mais cedo porque as indicações não foram muito precisas\". Mas António Fontinha, comandante dos Bombeiros de Alijó, garante que \"o alerta foi dado com todas as indicações às 19,15 horas e a electricidade só foi cortada às 20,40\".
O presidente da Câmara, Artur Cascarejo, diz que se trata de \"mais uma prova de que a centralização de meios penaliza as gentes do interior\". Garantiu, também, que \"a grua será desmontada com toda a brevidade possível\".
Adérito Sousa, 46 anos, residente em S. Mamede de Ribatua, deixa dois filhos menores. \"O povo está doente, nem consegue comer. Esta noite até tive pesadelos\", conta Adelaide Castanheiro. A outra vítima foi Elias Meireles, de 47 anos, que pertencia aos bombeiros de Alijó. Os outros dois mortos, pai e filho, Ricardo Requeijo, 59 anos, e Henrique Rua, 29, eram espanhóis, e trabalhavam na firma \"Montajes de Galicia\" .