A ligação de Bragança a Puebla de Sanábria, em Espanha, vai mesmo avançar com perfil de “estrada melhorada” e 16 milhões de euros de investimento, depois de décadas de impasse devido a chumbos ambientais por atravessar Montesinho.

A secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Isabel Ferreira, confirmou, em entrevista à Lusa, que a ligação “está já contratualizada entre a Estrutura de Missão Recuperar Portugal e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), como intermediário, e, como beneficiário final, o município de Bragança”.

A solução “não é de todo” a que defendia a Câmara de Bragança, como disse hoje à Lusa o presidente Hernâni Dias, que queria uma estrada, “no mínimo, com perfil de IP (Itinerário Principal”, mas o município acabou por aceitar a proposta do Governo e é quem vai executar a obra.

A ligação está inscrita, com uma verba de 16 milhões de euros, há quase dois no Plano de Recuperação e Resiliência, mas o autarca de Bragança contestou a proposta do Governo, que considerou resumir-se a apenas melhoramentos na atual estrada de cerca de 40 quilómetros de curva contra curva.

O autarca social-democrata reclamava a solução que constava de um estudo prévio elaborado em conjunto pela Câmara de Bragança e as entidades locais da vizinha região espanhola, com um custo de 34 milhões de euros, mais do dobro do que acabou por ser contratualizado.

“Não era o valor, nem o tipo de estrada que nós gostaríamos, que era uma estrada mais larga com perfil de IP (Itinerário principal), mas, não sendo possível, vai fazer-se um melhoramento grande na estrada”, disse à Lusa o autarca.

O que a autarquia se propõe agora executar “é uma estrada com sete metros de largura, com três metros e meio de faixa para cada lado, mais um metro lateral (nas bermas) pavimentado”, segundo o autarca.

Hernâni Dias adiantou à Lusa que “em princípio, até ao final do mês de maio”, o município vai lançar o concurso para a execução do projeto.

O presidente da câmara vincou que aceitou a solução, mas que deixou “uma nota clara” ao Governo no sentido de que “se, eventualmente, a intervenção tiver valor superior àquele que está agora definido, obviamente que vai ter que ser o Governo a suportar esse valor”.

Em relação ao projeto da estrada, indicou que “o que está previsto é que siga o troço de Bragança a Rio de Onor, com uma variante em Varge e outra variante em Rio de Onor, que depois há de derivar para o lado espanhol”.

Para a secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Isabel Ferreira, esta “será uma ligação extraordinariamente importante para concretizar a estratégia comum de desenvolvimento transfronteiriço”, entre Portugal e Espanha.

Do trabalho conjunto entre os dois países, a secretária de Estado afiançou que “do lado de lá (da fronteira) há também esse compromisso de que vão avançar e também já houve passos significativos nesse sentido”.

“E mais uma vez, também aqui, a CCDR-N está a articular com a Junta de Castela e Leão para assegurar que assim é porque é importante que haja articulação entre os dois países”, acrescentou.

Relativamente ao montante financeiro e ao perfil da estrada, a governante considera que as características são as “adequadas para uma ligação que está dentro de uma área protegida, mas que também tem que ter perfis que vão ao encontro dos perfis da parte espanhola”.

A rodovia é reclamada há década e chegou a constar do Plano Rodoviário Nacional, mas foi excluída com a justificação dos sucessivos obstáculos ambientais, por atravessar o Parque Natural de Montesinho.

A melhoria da ligação ganhou visibilidade depois da inauguração na zona de Puebla de Sanábria de uma estação do comboio de alta velocidade espanhol, que fez de Bragança a cidade portuguesa mais próxima da ferrovia com estas características.

Porém, é necessário viajar mais de uma hora para fazer os cerca de 40 quilómetros entre Bragança e Puebla de Sanábria e ali apanhar o comboio que demora duas horas a chegar a Madrid, a capital espanhola que fica a cerca de 400 quilómetros.



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