O Livre condenou hoje as declarações do reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real, porque diz que indiciam vigilância e perseguição a docentes universitários.
“O Livre condena as declarações do reitor da UTAD e manifesta a sua profunda preocupação para com as práticas de vigilância, perseguição e invasão da privacidade dos docentes por parte do representante do órgão máximo da universidade”, afirmou o partido político em comunicado.
As declarações polémicas do reitor Emídio Gomes foram proferidas a 09 de outubro, num evento de inovação denominado INOV-Norte, na Universidade do Porto, onde, segundo o Livre, “afirmou que é sua prática fazer reuniões com os núcleos do curso nas quais solicita informações pessoais sobre os docentes da universidade que rege”.
“Eu quatro vezes por ano fecho-me com a totalidade dos meus núcleos de curso - eu não sabia quem era o estudante que aqui vinha - e, à porta fechada, e com um ‘confidencial agreement’ [acordo de confidencialidade] em que o que lá se passa não é utilizado como fonte, eu sei tudo sobre os meus professores”, afirmou o reitor.
Nesta ocasião, Emídio Gomes acrescentou: "Eu antes de ser reitor da universidade fiz uma amostra de 100% dos meus docentes do quadro da universidade. Sei exatamente o que cada um deles faz, como está, quando faltam às aulas, quando fazem batota com as aulas, quando não põem lá os pés. Sei isto tudo sobre cada um com este cuidado, conheço as debilidades da minha própria instituição, no sentido de a fortalecer”.
Segundo o Livre, os docentes universitários reagiram com surpresa e indignação a estas declarações.
Também, acrescentou, o Departamento do Ensino Superior e Investigação (DESI), do Sindicato dos Professores do Norte (SPN), considerou estas “práticas de incentivo à intriga, persecução e hipervigilância” que se têm propagado em muitas instituições do ensino superior.
O partido adiantou ainda que, numa carta aberta, “várias individualidades da instituição afirmam ser testemunhas e vítimas de práticas abusivas, designadamente o controlo excessivo que Emídio Gomes exerce sob o seu estatuto de reitor”.
“Para o Livre, a universidade é e será sempre um espaço de Liberdade, e por isso o Livre será sempre uma voz de denúncia de quaisquer tentativas de subverter o espírito da liberdade académica”, afirmou.
Através de uma comunicação interna, divulgada na quarta-feira e a que a Lusa teve acesso, o reitor Emídio Gomes disse que em nenhum momento interferiu, ou interfere, com qualquer docente da UTAD, no que “respeita aos rigorosos princípios de liberdade, isenção e lealdade para com todos eles, sem exceção”.
“Esta é uma prática de que me orgulho e todos sabem que a pratico”, afirmou.
Emídio Gomes disse que a sua intervenção, na Universidade do Porto, aconteceu em resposta a uma questão colocada pelos estudantes sobre a sua participação efetiva na avaliação dos modelos pedagógicos, nomeadamente dos docentes.
“A realização regular de reuniões do reitor com os núcleos de estudantes é uma prática pública, saudável, já que são eles o nosso maior foco, sempre assumida de forma transparente perante a academia. Nestas reuniões são analisados diversos aspetos do funcionamento geral da UTAD e dos Serviços de Ação Social (SASUTAD), incluindo as unidades curriculares da vasta oferta formativa”, escreveu ainda.